Plano radical do FMI para Japão inverte a política de Nixon
(Bloomberg) -- Demonstrando o tamanho de sua preocupação com a economia japonesa, o Fundo Monetário Internacional está pressionando o país a ressuscitar uma estratégia radical adotada pelos ex-presidentes americanos Nixon, Ford e Carter - só que ao contrário.
Trata-se de uma política de salários que requer o tipo de intervenção direta do governo na definição da compensação de trabalhadores à qual muitos economistas atualmente têm ojeriza.
Em vez de adotar essa política para tentar conter pressões de salários e preços - como fizeram as autoridades americanas na década de 1970 --, o FMI quer que o Japão use persuasão moral, isenções tributárias e, em último caso, multas para forçar as empresas a conceder maiores ganhos salariais e incentivar a inflação.
"Precisamos de políticas que sustentem aumentos salariais no Japão", afirmou a repórteres o chefe da missão do FMI no país, Luc Everaert, em 2 de agosto, após a conclusão da consulta anual da instituição sobre a terceira maior economia do mundo.
O apoio do FMI a uma abordagem tão heterodoxa é um reconhecimento do grau de permanência da "mentalidade deflacionária" no Japão e do grau de resistência da mesma a medidas mais tradicionais.
Esse apoio é também a resposta do fundo à insistência para que o Japão lance mão do chamado dinheiro de helicóptero - ou seja, financiamento direto do déficit orçamentário pelo banco central --, uma estratégia que, segundo Everaert, implica "riscos muito grandes".
Discussão sobre meta salarial
A recomendação do FMI de ações mais agressivas para impulsionar a remuneração dos trabalhadores ecoa pelo Japão. "Talvez seja necessário incentivar uma discussão em todos os ministérios sobre uma política de meta salarial", afirmou a repórteres o recém-nomeado chefe de gabinete Kozo Yamamoto, em Tóquio, no dia 4 de agosto.
Yamamoto tem desempenhado papel influente no desenvolvimento do Abenomics, o amplo programa econômico defendido pelo primeiro-ministro Shinzo Abe.
Os desdobramentos das medidas de Richard Nixon, Gerald Ford e Jimmy Carter na década de 1970 para alterar salários colocam em xeque a eficácia dessas políticas. Nenhum dos três conseguiu conter as expectativas inflacionárias, apesar das medidas de controle de preços e salários de Nixon e também das diretrizes de caráter mais opcional propostas por Carter.
"Na época, eu achava que eram boa ideia por causa da alternativa", disse Barry Bosworth, que dirigiu o Conselho de Estabilidade de Preços e Salários da Casa Branca entre 1977 e 1979, no governo Carter. "Mas acabou não funcionando, então partimos para a alternativa, que foi uma recessão muito severa. Funcionou, mas custou muito caro."
Bosworth, que hoje é integrante sênior do corpo diretivo da Brookings Institution, em Washington, duvida que a receita do FMI para o Japão funcione.
"Provavelmente o impacto será muito pequeno", ele disse, argumentando que as empresas dificilmente aceitarão assumir custos adicionais em um ambiente econômico de baixa demanda.
Título em inglês: IMF's Radical Wage Plan for Japan Turns Nixon Policy on Its Head
Para entrar em contato com os repórteres: Rich Miller em Washington, rmiller28@bloomberg.net, Connor Cislo em Tóquio, ccislo@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Patricia Xavier
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