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Olimpíada no Rio de Janeiro não foi um desastre. E agora?

Jonathan Levin

22/08/2016 14h33

(Bloomberg) -- Não foi perfeito, mas o Rio de Janeiro conseguiu realizar as Olimpíadas.

As preocupações foram muitas, mas os problemas que afetaram atletas e turistas foram relativamente pequenos. Uma piscina ficou verde. Algumas competições estavam com a maioria das cadeiras vazias. Visitantes foram assaltados, mas o relato mais impressionante - quatro nadadores dos EUA retirados do táxi e roubados a mão armada - se provou ter sido inventado. E quanto à paranoia em relação ao vírus zika, vai demorar para saber se algum turista contraiu a doença durante o evento.

Para muitos cariocas, a cerimônia de encerramento no domingo sinalizou a volta ao ambiente de alta criminalidade e recessão econômica. Ficou para trás o enorme investimento em infraestrutura e no setor hoteleiro, que colaborou para atenuar o efeito do avanço do desemprego no País. Os 85.000 soldados e policiais que estavam no Rio para as Olimpíadas eventualmente voltarão a seus postos originais.

"Assaltos a atletas famosos - reais ou imaginários - foram de várias formas distração para muitos de nós que vivemos aqui da história real", disse Robert Muggah, analista de segurança do Instituto Igarapé.

Choque de realidade

Embora a taxa de homicídios na cidade esteja baixa quando comparada com uma década atrás, a violência vem aumentando nas favelas e crimes menos graves estão mais frequentes das praias de Copacabana até o centro histórico. O próximo prefeito e o governador enfrentam decisões difíceis quanto ao programa de pacificação das comunidades e acusações de abuso da força policial.

Em 2009, quando a cidade ganhou o direito de sediar os jogos, esperava-se que as Olimpíadas mostrassem a ascensão do Brasil como potência econômica. Muita coisa mudou de lá para cá. A economia entrou em colapso e os ganhos em termos de segurança e redução de pobreza foram parcialmente eliminados. Ainda assim, contrastando com o ocorrido em outras cidades-sede, as instalações e a infraestrutura necessárias para os jogos ficaram prontas a tempo e com pouco drama, exceto pela linha de metrô inaugurada apenas dias antes da abertura do evento.

"Essas melhorias na infraestrutura do Rio de Janeiro eram desesperadamente necessárias", disse o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, no sábado. "Tudo isso criou milhares e milhares de empregos. Imagine como estaria o Rio sem este programa de desenvolvimento de longo prazo."

O presidente-executivo da Associação Olímpica Britânica, Bill Sweeney, disse que o Rio fez um "grande trabalho" em função das circunstâncias. "Eles sediaram jogos brilhantes dados os desafios que enfrentaram desde que se candidataram para isso", disse ele. "Eles tiveram um ambiente muito desafiador."

Um estudo publicado por Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas que foi ministro da presidente afastada Dilma Rousseff, também elogiou o impacto desses investimentos. Uma das conclusões mais importantes de Neri foi que a renda real das famílias apresentou ganhos desproporcionais nos sete anos que antecederam as Olimpíadas.

'Erro estratégico'

Já James P. Moore, Jr., diretor-gerente da Iniciativa de Negócios, Sociedade e Políticas Públicas da Escola de Administração McDonough, de Georgetown, afirma que é cedo demais para se chegar a esta conclusão.

"Minha previsão é que o Rio será visto como erro estratégico", afirmou Moore por e-mail. "Não será consenso universal, mas, por anos, eu garanto que dará aos países em desenvolvimento muito o que discutir sobre o princípio de cuidado com o que se deseja."

Por exemplo, a distribuidora de eletricidade Light solicitou a revisão das tarifas cobradas de consumidores residenciais em parte por causa de investimentos motivados pelas Olimpíadas.

Perguntas importantes ficam no ar após o fim dos jogos, que renderam ao Brasil um número recorde de sete medalhas de ouro. O comitê organizador da Rio 2016 enfrenta um buraco no orçamento que afetará a execução de suas últimas responsabilidades, relativas à realização dos Jogos Paralímpicos a partir de 7 de setembro. O comitê tenta cobrir o rombo com recursos públicos em nível federal e local e junto a patrocinadores do setor privado. Parte do orçamento operacional vem da venda de ingressos e Mário Andrada, um porta-voz da Rio 2016, afirma que foram vendidos somente 12 por cento dos ingressos para as provas da Paralimpíada.

Outra questão é o destino do gigantesco Parque Olímpico, na Barra. O governo diz ter um plano para transformá-lo em parque e área de treinamento, mas muitos questionam a utilidade de algumas instalações, como o velódromo, nos próximos anos.

Quanto à Olimpíada realizada entre 5 e 21 de agosto, o prefeito Eduardo Paes receberá elogios por sua execução e isso ajudará seu futuro político, de acordo com Thiago de Aragão, sócio e diretor de estratégia da consultoria de risco político Arko Advice. Na sexta-feira, Paes declarou ter certeza de que foi bom trazer os jogos para o Rio e disse que o comitê organizador fez um "trabalho fantástico".

"Vai ser ser visto como um sucesso para ele", afirmou Aragão em entrevista por telefone de Brasília. "No entanto, esses dias de sucesso e alegria, eles de certa forma são uma ilha dentro de um ambiente de problemas de segurança pública, de problemas gravíssimos."