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Eleição presidencial EUA nunca foi tão importante para mercados

Luke Kawa

30/08/2016 10h40

(Bloomberg) -- A nova chefia vai ser praticamente igual à anterior. É isso o que os mercados financeiros preveem para a maior economia do mundo antes da eleição presidencial em novembro, de acordo com o responsável global por pesquisa de câmbio e juros do Bank of America Merrill Lynch, David Woo. No entanto, se essa previsão estiver errada, o revés nos mercados pode ser extraordinário.

A premissa de que a corrida presidencial está resolvida ? e que as políticas do atual governo permanecerão praticamente inalteradas ? ajuda a explicar o bom desempenho das bolsas americanas nos últimos dois meses, uma vez que ativos de risco, como ações, tendem a ir bem durante o período que antecede uma eleição considerada ganha por um dos lados.

"O S&P 500 subiu mais de 4 por cento desde 5 de julho (início do período de 90 pregões antes da eleição, em 8 de novembro)", escreveu Woo. "Para se ter uma ideia, a última vez em que as bolsas foram melhor neste meio do caminho foi em 1984, quando Ronald Reagan teve uma enorme vitória histórica sobre Walter Mondale."

As negociações na plataforma Iowa Electronic Markets sugerem que a eleição provavelmente produzirá um Congresso dividido. O cenário básico neste caso, segundo Woo, é que, quando assumir o cargo em 20 de janeiro de 2017, a Presidente Hillary Clinton trabalhará com um Senado de maioria democrata e uma Câmara de Deputados de maioria republicana.

Esta combinação "provavelmente significa impasse, continuação da paralisia em Washington que virou norma desde que os democratas perderam a maioria na Câmara de Deputados nas eleições de 2010", escreveu Woo. "Se esse cenário se concretizar, a experiência dos últimos seis anos sugere haver pouca chance de uma grande mudança nas políticas econômicas fundamentais do país mais importante do mundo no futuro visível."

A complacência dos mercados em relação à continuidade do status quo fiscal, segundo o estrategista, se reflete nos níveis discretos de volatilidade implícita em três meses e em um ano para a taxa de câmbio entre dólar e euro. Para Woo, apostar na queda do dólar australiano em relação ao dólar americano por meio de opções de venda é uma operação atraente antes da eleição. Embora um governo Clinton seja quase uma certeza no momento, os candidatos à presidência nos EUA costumam ficar mais próximos em termos de intenções de voto logo antes da decisão, como ocorreu em 2004 e 2012.

Em entrevista à Bloomberg TV, Woo alertou que uma vitória ampla na eleição ? com qualquer um dos partidos controlando os poderes executivo e legislativo ? poderia causar estresse agudo em carteiras de paridade de risco, que são uma das estratégias de investimento mais quentes de 2016. Essas carteiras geralmente incluem posição comprada e alavancada em títulos do Tesouro americano e posição comprada em ações. A expansão fiscal que viria após Clinton ou Donald Trump assumirem o cargo e trabalharem com um Congresso de boa vontade poderia desencadear alta das taxas de juros e disparada do dólar, prejudicando o desempenho das estratégias de paridade de risco.

"A nosso ver, se o mercado não estiver subestimando a probabilidade de uma vitória ampla, certamente está subestimando a magnitude do relaxamento fiscal se houver uma vitória ampla", concluiu Woo. "Não lembramos a última vez em que os mercados de juros e câmbio tinham tanto em jogo com o resultado de uma eleição nos EUA!"