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Análise: Gestor rico obtém promoção e o pobre, retorno

Tyler Cowen

31/08/2016 15h32

(Bloomberg) -- Todo mundo sabe que berço importa, mas as conexões às vezes surpreendem. Por exemplo, novos dados sobre fundos mútuos sugerem que gestores nascidos em famílias mais pobres ultrapassam os mais abastados em termos de desempenho. E não é por pouco. Gestores de famílias no quintil inferior de patrimônio aparentemente superam aqueles oriundos do quintil superior em 2,16 por cento ao ano, com ajuste para risco.

Esta é uma das conclusões do estudo de Oleg Chuprinin, da Faculdade de Administração da Universidade de Nova Gales do Sul, e Denis Sosyura, da Faculdade de Administração da Universidade de Michigan.

À primeira vista, pode não parecer lógico, pois não estamos acostumados à ideia de pessoas em desvantagem se saindo melhor. Mas faz sentido -- potencialmente pelo menos.

A maioria dos indivíduos de famílias menos abastadas não chega a administrar fundos mútuos. Portanto, como um todo, eles ficam atrás. Mas aqueles que se tornam gestores de fundos provavelmente têm inteligência superior e são mais desenvoltos e eventualmente entregam taxas de retorno mais elevadas. Já aqueles que vêm de famílias com padrão de vida mais confortável frequentemente precisam se esforçar menos para conseguir esses cargos e isso talvez se reflita no desempenho deles no trabalho.

Essa hipótese é sustentada por diversos conjuntos de dados. Por exemplo, gestores de famílias mais ricas apresentaram maior dispersão das taxas de retorno. Ou seja, alguns foram extremamente bem e outros muito mal. Essa distribuição é sinal clássico de um filtro de qualidade questionável. Se apenas a meritocracia contasse, alguns desses gestores não estariam sequer naquela cadeira.

Os dados também mostraram maior probabilidade de promoção de gestores de fundos de famílias mais ricas mesmo quando entregavam taxas de retorno inferiores. As taxas de retorno produzidas por gestores de famílias mais humildes eram muito mais próximas, o que é consistente com a noção de que essas pessoas passaram por triagem muito mais rigorosa. Eles precisavam ser excelentes ou não passavam nem pela porta - o que significa que praticamente todos os gestores com essa origem eram muito bons.

Então isso tudo quer dizer que o melhor é procurar gestores de fundos de família operária e modos menos sofisticados? Não é bem assim.

Como qualquer estudo, este tem suas limitações.

Um importante aspecto é que o estudo só contempla gestores nascidos até 1945. O censo do governo americano não divulga os dados ainda confidenciais sobre a renda dos pais dos gestores mais jovens. (A pesquisa contemplou 357 gestores de fundos e o período de 1975 a 2012). É possível que a discrepância de desempenhos não se sustente entre os mais jovens, que vêm se tornando uma parcela cada vez maior do setor.

Em segundo lugar, o modelo encontra taxas de retorno mais altas, mesmo após ajuste para risco, usando um modelo padrão de quatro fatores. Porém, o ajuste adequado para risco é uma questão polêmica e é possível que os gestores de origem mais pobre usem estratégias mais arriscadas de uma maneira que é mais difícil de mensurar. Afinal, eles talvez tenham menos a perder com um eventual fracasso. Os autores do estudo também concluíram que esses gestores negociam ativos com maior frequência, mantêm os ativos em carteira por menos tempo e têm menor tendência a fazer apostas iguais às de outros gestores de fundos. Tudo isso sugere um gestor com uma visão menos conformista do mundo - o que às vezes dá certo, mas também implica maior risco.

Outra possibilidade é que as taxas de retorno superiores obtidas por gestores menos afortunados signifiquem apenas que esses indivíduos foram empregados em segmentos menos estabelecidos dos mercados em uma época em que estratégias originais funcionavam melhor do que a média. Essa regularidade talvez não se sustente no futuro.

Apesar de todas essas ressalvas, Chuprinin e Sosyura chegaram a conclusões impressionantes que merecem ser estudadas mais a fundo. Até o momento, esse efeito não parece ser conhecido no mercado. Os autores descobriram que os investidores não buscam informações familiares dos gestores na hora de decidir onde aplicar dinheiro. Está claro que as principais faculdades de administração dos EUA precisam considerar aceitar mais candidatos de origem socioeconômica menos favorável.

Pensando bem, os mecanismos por trás disso tudo vêm sendo discutidos há tempos. Por exemplo, comenta-se muito sobre o talento excepcional de uma mulher ou indivíduo de uma minoria social que consegue chegar ao topo em um ambiente de discriminação.

Então devemos escolher nossos médicos e dentistas por esse critério? E repórteres? Eu já mencionei que meu pai não fez faculdade?

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.