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Rublo acalma inflação para abrir caminho para cortes de juros

Olga Tanas

05/09/2016 15h38

(Bloomberg) -- O banco central da Rússia pode deixar que um rublo mais forte esgote o que resta de pressão inflacionária na economia.

Uma alta de mais de 13 por cento neste ano, o terceiro maior rali do mundo, está acalmando as repercussões da pior crise cambial do país desde 1998, o que deixa as expectativas de inflação no nível mais baixo em quase dois anos. O crescimento anual dos preços ao consumidor recuou de 7,2 por cento em julho para 6,9 por cento em agosto e atingiu a taxa mais baixa desde a eclosão das tensões em relação à Crimeia, em fevereiro de 2014, disse o Serviço Federal de Estatísticas na segunda-feira. O dado ficou em linha com a mediana de 17 estimativas em uma pesquisa da Bloomberg.

"O rublo mais forte deveria exercer a principal força desinflacionária no curto prazo", disse Michal Dybula, economista do BNP Paribas em Varsóvia, em um relatório. "Um recuo das expectativas de inflação é um fator fundamental que permite que o banco central da Rússia adote uma flexibilização mais robusta da política no futuro".

A desaceleração deixa os preços 10 pontos percentuais abaixo de um pico de 13 anos registrado em 2015 e poderia dar ao Banco da Rússia confiança para empreender a primeira sequência ininterrupta de reduções dos juros desde que as autoridades interromperam um ciclo de cinco etapas em setembro do ano passado. O Bank of America e o Danske Bank projetam uma diminuição quando o banco central revisar o custo do crédito na semana que vem, Morgan Stanley prevê duas reduções em 2016 e o BNP projeta cortes em cada uma das três reuniões que restam neste ano.

Moeda fortalecida

Uma moeda mais forte esfria o crescimento dos preços, tornando as importações mais baratas. O rublo está cotado em uma faixa de cerca de 67 a 63 por dólar desde meados de abril e registrou em agosto o primeiro ganho em uma década.

A taxa de câmbio deveria "corresponder ao nível de desenvolvimento da economia", disse o presidente Vladimir Putin em entrevista na semana passada. Ele acrescentou que não pretendia influir na política do banco central. Putin alimentou a especulação de que o banco central poderia voltar a comprar moeda estrangeira para desvalorizar o rublo em julho, quando instruiu seu primeiro-ministro a monitorar a força do rublo.

As autoridades, que ultrapassaram sua previsão em 2015 pelo quarto ano consecutivo, querem manter o crescimento dos preços entre 5 por cento e 6 por cento em 2016. O ritmo de desinflação "por enquanto não é suficientemente rápido para atingir com certeza" a meta de 4 por cento do banco central para o fim de 2017, e as expectativas mostram "uma maior inércia" do que em anos anteriores, afirmou o departamento de pesquisa e projeções do banco em um relatório publicado na semana passada.

Expectativas altas

Embora o crescimento dos preços tenha se estabilizado, o valor mediano de expectativas de inflação continua sendo mais que o triplo da meta. A importância de seu declínio em agosto "não deveria ser exagerada", disse Alexander Isakov, economista da VTB Capital. Os aumentos de preços, à exceção dos alimentos, no primeiro semestre mantiveram a inflação bem acima de 6 por cento, disse ele.

A inflação de agosto poderia dar mais peso à redução de juros, segundo Vladimir Miklashevsky, estrategista sênior do Danske Bank em Helsinque.

"Um número abaixo do esperado confirmará um corte de juros mínimo de 50 pontos-base e abrirá as portas para outro corte ainda neste ano", disse ele. "Consumidores individuais e varejistas terão mais oxigênio para respirar em 2017, o que é extremamente importante porque esse será um ano pré-eleitoral".