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Sete pontos para entender a decisão do Copom sobre os juros

O Comitê de Política Monetária, o Copom, decidiu na quarta-feira (8) deixar de cortar a taxa de juros a 0,5 ponto percentual, como vinha fazendo nas últimas seis reuniões. Em vez disso, cortou a taxa em 0,25 ponto, para 10,50% ao ano. A decisão não foi unânime: houve cinco votos a favor e cinco contra. Entenda em X pontos o que tudo isso significa e quais são as perspectivas daqui para frente para a Selic e os investimentos:


Racha

O presidente do BC, Campos Neto votou com a maioria. Os quatro diretores indicados pelo governo Lula queriam um corte maior, de 0,50 pontos. "A divergência é ruim, pois sinaliza que a próxima composição do Banco Central, que assume em janeiro do ano que vem, é mais 'dovish' (menos severa)", diz Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

Por que o BC diminuiu o ritmo de cortes?

Por conta de fatores internacionais e nacionais. O problema aqui é a inflação - e internacionalmente também. Com os preços subindo em outros países, os juros fora daqui não caem. "Ainda acredito que o Fed mantendo juros altos nos Estados Unidos pode atrapalhar o ciclo de queda de juros por aqui. Juros altos nos EUA podem fortalecer o dólar e pressionar a inflação, dificultando a redução da Selic aqui.", diz Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e fundador da GT Capital, referindo-se ao Federal Reserve, o banco central americano.

O BC acha que a inflação vai cair menos que o esperado. E é ela que determina o ritmo dos cortes. "Há ainda dúvida sobre a velocidade de queda da inflação no mundo. Esse cenário incerto se soma às dúvidas locais e, segundo Copom, exigem cautela na condução dos juros", publicou a Galapagos Capital.

O que o Banco Central quer é que ela chegue a 3% ao ano. Mas o banco até revisou para cima sua meta de inflação nesta reunião: antes, a previsão era de 3,5% e subiu agora para 3,8% até o final de 2024. "Eventos como as enchentes no Rio Grande do Sul também podem pressionar a inflação de alimentos, dificultando a queda da Selic" , diz Azevedo.

Todos esses fatores fazem o processo desinflacionário desacelerar. É o que diz o Goldman Sachs. Com os preços caindo menos aqui e no exterior, é preciso ter "mais serenidade no corte de juros", publicou o banco.

Gastos do governo podem atrapalhar

Como o BC atrela cortes de juros à queda da inflação, o fiscal pode prejudicar. "Uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos juros", explica o Goldman Sachs, em documento para investidores.

PIB em alta prejudica?

O Copom ressaltou que a atividade econômica e o mercado de trabalho estão mais fortes que o esperado. Isso faz o Produto Interno Bruto do Brasil, o PIB, subir. E é bom. Mas para o comitê é um sinal de alerta de que a inflação pode subir.

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E daqui para frente?

O Copom disse que as decisões futuras serão ditadas pelo ritmo da inflação. "Não houve nenhuma menção sobre qual será a decisão do futuro. Assim, as próximas decisões dependerão fundamentalmente da trajetória da inflação em direção à meta", diz José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.

Mesmo assim, o mercado faz previsões. O Goldman Sachs aposta em mais um corte de 0,25 ponto na próxima reunião, em junho. A expectativa do banco americano é que cheguemos ao final de 2024 com uma taxa de 9,75%. O Bank of America é mais conservador. "Esperamos mais um corte de 0,25 ponto em junho e depois uma pausa até janeiro de 2025. Assim, vemos a Selic a 10,25% ao fim de 2024 e de 9% até dezembro de 2025", publicou o banco.

A Galapagos projeta a Selic a 9,25% no final de 2024. "Com corte de 0,25 ponto em todas as reuniões até dezembro. Prevemos o final do ciclo de corte em 2025, com a taxa Selic em 8%", publicou a empresa.

Para final de 2024 minha expectativa atual é de 9,75% contra 9,50% no início do mês de abril

Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e fundador da GT Capital

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E como fica a Bolsa?

A decisão não pegou o mercado de surpresa. "Ela veio dentro do consenso do mercado, que antecipava uma redução moderada devido às incertezas econômicas e às pressões inflacionárias ainda existentes", diz Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital.

Mesmo assim, a reação não foi boa. Por volta do meio-dia, o Ibovespa operava em queda de 1,39%, a 127.678,18 pontos.

Mas para quem tem metas de longo, é um bom momento. Os ativos da bolsa brasileira ainda estão baratos, sendo negociados a um P/L projetado para os próximos 12 meses próximo a 8 vezes, sendo a média histórica na faixa 11-12 vezes.

A relação preço da ação pelo lucro por ação é uma fórmula para saber se uma ação está barata ou não. Quanto menor esse número, teoricamente mais barata está essa ação. "Então há muito espaço para alta para ações do mercado brasileiro. Além disso, está havendo novamente uma revisão na projeção dos lucros das empresas para cima. Então, para quem procura investimento de longo prazo, as ações do Ibovespa estão a preços atrativos", diz Andre Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital.

Quais setores podem se beneficiar?

O setor bancário é o primeiro que ganha com a queda da Selic. Isso porque aumenta a demanda por crédito, já que o consumidor percebe que as taxas estão mais atrativas e juros de financiamento mais baixos.

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Outros são os de empresas mais alavancadas. "São companhias que precisam investir mais, como o setor de tecnologia, setor logístico, além de setores de consumo como educação e o varejo em geral", diz Fernandes.

E se o investidor não puder esperar, o jeito é ir para renda fixa. "O cenário para a renda fixa permanece construtivo, dadas as taxas de juros altas por mais tempo, apesar do ciclo de cortes", diz Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos. Para ela, a melhor opção são os títulos atrelados à inflação. "Eles têm oferecido retornos elevados de juro real, acima de 6%, uma das razões que explica a performance negativa da bolsa no ano."

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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