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Escavação mais profunda aumenta mortes em minas da África do Sul

Kevin Crowley

09/09/2016 15h47

(Bloomberg) -- Para encontrar minerais na África do Sul após mais de um século de escavações, muitas vezes é necessário ir mais fundo que nunca. Agora isso também está se tornando mais mortal.

Em um país que continua sendo um dos maiores produtores de ouro, platina e diamante, a taxa de 60 mortes em minas neste ano até agosto foi 20 por cento maior que a do mesmo período em 2015, de acordo com a Chamber of Mines, um grupo do setor. A soma anual caminha para o primeiro aumento em nove anos e o maior em pelo menos duas décadas, o que aumenta o temor entre os mineiros e os executivos do setor.

Muitas das vítimas trabalhavam no calor escaldante das minas de ouro, que podem ficar a mais de três quilômetros abaixo da superfície e são algumas das mais fatais da África do Sul. Diversas causas foram citadas, da queda de uma pedra a mineiros que não seguem os protocolos de segurança. No entanto, em todos os casos, isso significa prejuízos para os produtores quando eles são obrigados a fechar minas até o governo concluir as investigações.

"É de se esperar que a resposta do órgão regulador seja contundente e é isso que estamos vendo", disse Srinivasan Venkatakrishnan, CEO da AngloGold Ashanti, maior produtora de ouro da África do Sul.

O ministro de Recursos Minerais, Mosebenzi Zwane, transmitiu preocupação com o desempenho pobre da segurança neste ano e pediu que as empresas redobrem seus esforços, especialmente porque o número de mortos e feridos tende a aumentar no segundo semestre do ano, quando há mais dias úteis e a produção aumenta. Em 14 de julho, Zwane disse que seu departamento investigará o aumento do número de óbitos, que vinha caindo nos últimos vinte anos.

Profundamente perigoso

Quando ocorrem acidentes, o Departamento de Recursos Minerais pode fechar a área atingida ou até mesmo uma mina inteira durante o período de investigações. A AngloGold e a Sibanye Gold, maiores produtoras do país, não conseguiram extrair cerca de US$ 112 milhões em ouro no primeiro semestre deste ano devido ao fechamento após acidentes e a Anglo American Platinum não pôde extrair cerca de US$ 33 milhões em platina, informaram as empresas.

Diante do esgotamento das reservas do país, as empresas de mineração optaram por escavar mais profundamente, o que pode acarretar mais riscos. A Mponeng, da AngloGold, é a mina mais profunda do mundo e extrai ouro de 3,9 quilômetros abaixo da superfície, o equivalente a quase nove vezes a altura do Empire State Building.

Embora todos concordem que muitos dos fechamentos impostos pelo governo tenham sido necessários, alguns executivos afirmam que os órgãos reguladores estão exagerando nos casos em que todo o funcionamento da mina foi suspenso. As interrupções "deveriam estar mais concentradas nas áreas afetadas, em vez de paralisar uma grande mina subterrânea durante um longo período de tempo", disse Venkatakrishnan, da AngloGold.

Mais treinamento

Parte do problema pode ser que as minas estão empregando trabalhadores mais jovens com menos experiência e, portanto, um maior apetite ao risco, o que pode significar que eles precisam de melhor formação, de acordo com CEO da Sibanye, Neal Froneman.

"Eu não estou culpando ninguém, estou dizendo que isso é um novo paradigma que precisamos entender melhor", disse Froneman. "A geração mais jovem pergunta mais por que fazemos as coisas. Eles querem ser mais participativos na tomada de decisões. Isso é uma coisa boa, mas é preciso mudar alguns dos nossos comportamentos como gerentes para incorporar isso".