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Produtores fogem da seca na "nova fronteira" agrícola brasileira

Tiago Fioreze/Creative Commons
Imagem: Tiago Fioreze/Creative Commons

Gerson Freitas Jr. e Tatiana Freitas

11/10/2016 13h05

(Bloomberg) -- Anunciada como a "nova fronteira" do Brasil, a vasta savana que se estende ao lado da floresta amazônica ajudaria a atender à insaciável demanda da China por alimentos. Os produtores agrícolas brasileiros escutaram esse pedido e derrubaram árvores, araram terras virgens e plantaram soja a um ritmo frenético durante grande parte da última década.

Agora, a demanda chinesa por soja desacelerou e a oferta mundial aumentou em meio à safra recorde dos EUA, reduzindo os preços internacionais. Em algumas zonas do Nordeste brasileiro choveu tão pouco nos últimos quatro anos que os produtores estão presos na pior crise agrícola do país em uma década.

Produtividade caiu

A produtividade da nova fronteira na última temporada caiu e foi 40% menor que a da maior região produtora de soja do país, o Centro-Sul. Há um ano, a diferença era de 6%, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

"Os produtores precisam estar sempre preparados para possíveis perdas, mas ninguém está pronto para uma perda de 40%", disse Walter Horita, produtor de soja e algodão que está na Bahia há 33 anos. "Isso assusta até os produtores experientes, imagina os investidores sem nenhum histórico na região. Eles saem correndo."

Não existe um bom momento para a estiagem, mas o clima seco do Nordeste chegou em uma época particularmente desoladora para o maior país exportador de soja do mundo.

Em meio à turbulência política e econômica do Brasil, o juro do país é o mais alto em uma década, porque pulou de 7,25% para 14,25%, e prejudica os produtores que recorrem a empréstimos para financiar tratores, terras e sementes.

Agricultura sem irrigação

Para piorar o problema, a região não é recomendável, de forma geral, para a agricultura sem irrigação. O interior do Nordeste brasileiro é famoso por ter temperaturas altas o ano inteiro e chuvas intermitentes.

As precipitações costumam ser inferiores a 400 milímetros por ano, longe da média do país, que foi superior a 1.200 milímetros no ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Assim, os obstáculos climáticos da região, conhecida como Matopiba, acrônimo formado com a primeira sílaba dos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, não deveriam ter espantado produtores e investidores. O que surpreendeu foi o apetite voraz por plantar lá.

Debandada

A Agrifirma Brasil Agropecuária, financiada pelo banqueiro Jacob Rothschild, encabeçou o boom da soja em Matopiba ao plantar em 18 mil hectares. A Agrifirma agora está liderando a debandada.

A empresa está optando por cultivos mais tolerantes à estiagem, como sorgo e pastagem, depois que os produtores da área mais seca da região viram, sem poder fazer nada, grande parte da safra de soja deste ano murchar devido à falta de chuva.

"Não dá para sobreviver na região sem ter pelo menos parte da plantação com irrigação", disse Mariana Duarte, diretora da Agrifirma. "Estamos tentando diversificar para mitigar o risco climático."