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Wall Street procura programadores sem formação universitária

Hugh Son

28/10/2016 16h02

(Bloomberg) -- Durante quase cinco anos Gregory Furlong trabalhou 50 horas por semana como entregador da Best Buy a três quilômetros da casa onde cresceu em Wilmington, Delaware, nos EUA. O emprego era uma espécie de purgatório para alguém obcecado com computadores, que mexia com placas-mãe nas horas livres.

Então, no ano passado, Furlong, 30, se matriculou em um curso intensivo de programação de três meses que usa a HackerRank, uma plataforma digital que treina e forma pessoas em programação. Após conseguir a classificação global mais alta para desenvolvedores de Java, Furlong foi contratado pelo JPMorgan em dezembro para o programa de dois anos de treinamento em tecnologia do banco.

Essa é a nova meritocracia tecnológica de Wall Street. Normalmente, instituições financeiras cobiçavam graduados de Stanford e de outras universidades famosas ou quem já trabalhava no Vale do Silício. Mas esse sistema tende a ignorar bons programadores de outras escolas e pessoas inteligentes que abandonaram os estudos, segundo os recrutadores. Além disso, os bancos precisam preencher tantas vagas de programação que as escolas de elite não conseguem fornecer um número suficiente de candidatos.

Por isso, o setor está procurando em locais onde nunca procurou e recorrendo a empresas externas para avaliar possíveis programadores com base em medições objetivas e não na linhagem deles. A ideia é que as pessoas sem um diploma em Ciência da Computação - especialistas em artes, designers gráficos e formados em Química pela Universidade de Delaware como Furlong - consigam dar o salto para carreiras bem pagas na tecnologia. Empregando algoritmos para detectar programadores talentosos, a HackerRank e concorrentes com nomes como Codility afirmam que elas basicamente aumentaram a oferta mundial de desenvolvedores.

'Habilidades'

"Trata-se exclusivamente de habilidades", disse Vivek Ravisankar, 28, cofundador da HackerRank e ex-funcionário da Amazon. "A maioria dos programadores muito bons aprende sozinha e só continua desenvolvendo suas habilidades. Provavelmente os programadores muito bons tenham largado a faculdade."

A HackerRank é gratuita para programadores e ganha dinheiro com as comissões que cobra de clientes corporativos. Os usuários resolvem desafios e assistem a tutoriais em vídeo para aprimorar suas habilidades em linguagens de codificação específicas como Java; resolver problemas mais difíceis significa obter uma classificação mais alta. Eles também participam de competições organizadas pelos empregadores com desafios ligados às vagas que querem preencher.

O Goldman Sachs, a BlackRock e o hedge fund Two Sigma são clientes da HackerRank, assim como a Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News. As empresas financeiras não são as únicas que precisam de ajuda para achar programadores. Outros clientes são o varejista Wal-Mart e a fabricante de produtos médicos Stryker.

Nova vida

Para Furlong, que é parecido com Elijah Wood, dos filmes de "O Senhor dos Anéis", a nova vida é totalmente diferente da época na Best Buy. Ele se sente mais realizado e pagou empréstimos estudantis com um salário que é o dobro do que ganhava antes. E também trocou um Volvo modelo 2003 por um Subaru Impreza novo, que usa para ir ao centro de tecnologia do JPMorgan, um complexo de 31.122 metros quadrados com 2.000 desenvolvedores, aberto há um ano.

"As coisas mudaram muito", disse Furlong. "As pessoas têm muito mais oportunidades de abrir caminho e mudar de vida."