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Indignação com economia não explica auge do populismo mundial

Andrew Mayeda, Jeff Black e Gregory Viscusi

27/12/2016 16h55

Este foi o ano de pessoas como Bill Heinzelman, um aposentado do Wisconsin, nos EUA, e Lucien Durand, um agricultor do sudeste da França.

Eles ajudaram a dar impulso à onda populista que varreu o mundo ocidental em 2016, com a intensidade de um sentimento a favor do fim do status quo político que surpreendeu pesquisadores de opinião e investidores. A ideia generalizada entre analistas de eleições e políticos do establishment é que aindignação por terem sido excluídos devido à globalização levou os britânicos a deixarem a União Europeia e os americanos a votarem em Donald Trump.

Contudo, a sensação de terem sido abandonadas pela economia mundial explica apenas em parte aspreocupações dos habitantes do Centro Oeste dos EUA ou da Grécia, onde um governo populista antiausteridade está há quase dois anos no poder. Existe um descontentamento mais profundo com agestão dos governos, que os programas de estímulo fiscal, os impostos sobre as importações ou um rali do mercado acionário não vão conseguir acalmar logo.

A taxa de desemprego onde Heinzelman mora é de 3,2 por cento, o nível mais baixo desde 2000. Suas queixas estão relacionadas aos imigrantes sem documentados e por essa razão esse aposentado, dono de uma pequena empresa, apoiou Trump. Durand, cuja fazenda familiar fica em uma região moderadamente próspera entre Lyon e os Alpes, disse que burocratas em Bruxelas "totalmente longe do mundo real" solidificaram a fidelidade dele ao partido Frente Nacional da França, fato que poderia levar o partido antieuro liderado por Marine Le Pen ao poder no ano que vem.

"Sejam virtuais ou reais, a realidade é que vamos ver um mundo com mais muros", disse Ian Bremmer, presidente da Eurasia Group, consultoria de risco com sede em Nova York.

O caso da Grécia

Há dois anos, Yannis Tselepidis fez o que os eleitores dos EUA, do Reino Unido e agora da Itália fizeram agora: dar um tapa na cara do establishment. Na eleição grega de janeiro de 2015, que levou o partido Syriza ao poder com uma campanha reformista que prometia reverter a austeridade e desconhecer os credores do país, Yannis diz que sentiu que os antigos partidos já não o representavam e votou nos insurgentes.

Em frente à sua elegante loja de óculos no centro de Atenas, Tselepidis diz que as coisas não saíram comoele esperava. A Grécia continua atolada em dívidas, com mais tensões no horizonte. Uma ajuda doação do governo de Alexis Tsipras aos aposentados do país no Natal foi duramente criticada pelos credores do país.

"Muitos, incluindo eu, acreditavam que uma nova era estava chegando", diz ele. "É trágico ver aquilo que pensávamos que iria levar a uma mudança transformado em algo que é completamente inútil e perigoso."