Reino Unido pode usar 7 estratégias para abalar união da UE
(Bloomberg) -- Quando se trata de retirar o Reino Unido da União Europeia, a primeira-ministra Theresa May talvez tenha de jogar sujo para conseguir o melhor acordo possível para os britânicos.
O Reino Unido precisará semear discórdia no bloco para extrair concessões da UE, como manter relações preferenciais de comércio e acesso favorável para as instituições financeiras de Londres. Por enquanto, os outros 27 governos conseguiram manter uma frente comum, mas dois anos de negociações testarão as prioridades conflitantes de Paris, Budapeste, Lisboa e Varsóvia.
A Bloomberg elaborou um guia sobre como o Reino Unido pode abalar a união da UE:
1. Oferecer dinheiro
A saída do Reino Unido da UE deixará um rombo semanal de aproximadamente 250 milhões de libras esterlinas (US$ 304 milhões) no orçamento, potencialmente removendo recursos que são vitais para nações mais pobres, caso esse montante não seja coberto.
* ESTRATÉGIA: Em troca da continuação do repasse de fundos pelos britânicos, diplomatas do Leste Europeu sinalizaram que estão dispostos a considerar dar acesso de mercado único ao Reino Unido, mesmo se os britânicos restringirem o livre movimento de trabalhadores. Tal postura colocaria esses países em rota de colisão com nações ocidentais mais ricas, que insistem que essas duas políticas são inseparáveis. O Reino Unido pode prometer pagar sua conta na UE até o final do atual período orçamentário, em 2020, ou mesmo depois.
2. Jogar algumas partes da UE contra si
Como os 27 países da UE não podem negociar com o Reino Unido ao mesmo tempo, eles estão contando com os administradores do bloco em Bruxelas para fazer o trabalho pesado. O problema para a UE é a rivalidade de longa data entre instituições que compõem o bloco.
* ESTRATÉGIA: May pode aproveitar as disputas por poder tentando negociar diretamente com as capitais de cada país. Isso pode ser feito pelas costas da comissão, que deveria liderar as negociações em Bruxelas. Muitos governos nacionais não confiam na comissão, acreditando que nem sempre trabalha por seus interesses.
3. Explorar rachas quando se trata de Trump e Putin
Com o presidente eleito Donald Trump colocando em xeque o compromisso dos EUA com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a UE sabe que ganharia com a manutenção de vínculos com os recursos militares e de inteligência do Reino Unido, especialmente diante de preocupações relativas à proliferação do terrorismo e às ambições de expansão do presidente russo Vladimir Putin.
* ESTRATÉGIA: Usar defesa na barganha. A UE não faz segredo de que qualquer negociação em torno do Brexit precisa preservar a estabilidade do bloco. Países do Leste Europeu, em particular, estão abertos à continuidade da assistência do Reino Unido, em vista das agressões de Putin perto de suas fronteiras. O que poderão permitir em troca?
4. Seduzir o setor corporativo
Empresas com base no continente exportaram mais de 300 bilhões de euros (US$ 314 bilhões) para o Reino Unido em 2015. Elas desejam reter acesso ao mercado britânico e defendem um acordo para o Brexit que lhes proporcione essa flexibilidade.
* ESTRATÉGIA: O Reino Unido sabe que determinados setores da UE querem continuar vendendo para lá sem pagar tarifa. Governos da UE têm mantido a postura de que May não pode escolher a dedo acesso ao mercado único. Mas o Reino Unido sabe que tem um poderoso argumento a seu favor, ao manter companhias importantes em seu território e apresentar o livre comércio como benéfico para toda a economia europeia.
5. Usar a saída de cidadãos da UE do Reino Unido
Vivem no Reino Unido 3 milhões de cidadãos da UE e ainda não se sabe se vão poder permanecer e trabalhar lá depois da saída do bloco.
* ESTRATÉGIA: A vantagem que May poderia ter nessa área é diminuída porque seu governo também quer proteger os direitos de cidadãos britânicos que vivem na UE. Porém, firmar compromissos para proteger europeus que migraram para o Reino Unido sob as regras de livre movimento da UE pode ser uma apreciada demonstração de boa vontade da primeira-ministra.
6. Ameaçar cortar impostos
A alíquota de imposto para empresas no Reino Unido já é uma das menores na UE. O governo britânico sinalizou que pode baixar ainda mais a alíquota para atrair empresas que estão em outros países da EU, caso não consiga o que quer nas negociações.
* ESTRATÉGIA: O corte da alíquota tributária para as empresas teria impacto direto sobre economias da UE e qualquer ameaça nesse sentido pode pressionar governos a aceitar um acordo comercial que seja vantajoso para o Reino Unido ou que daria às instituições financeiras acesso contínuo ao mercado único.
7. Torcer para que a Europa esteja distraída
Talvez muitos britânicos não saibam, mas o Brexit não é a maior dor de cabeça da UE neste ano. Líderes europeus precisam lidar com eleições na França, Alemanha e Holanda que ameaçam o status quo, além do problema sobre o que fazer com milhões de pessoas que chegam do Oriente Médio e da África, sem falar na recuperação anêmica das economias da zona do euro.
* ESTRATÉGIA: O Reino Unido não pode fazer planos para cada uma das distrações que podem manter o resto da UE sem dormir nos próximos dois anos, mas pode usar eventos imprevisíveis para ganhar vantagem. Há quem diga que governos com outros problemas podem fazer com que a Comissão Europeia ? mais ideológica e mais centrada em regras ? tenha um papel maior nas negociações, o que seria ruim para o Reino Unido. Por outro lado, uma Europa instável e assombrada por incertezas terá mais dificuldades para se manter unida.
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