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Vizinhos da França veem risco de "catástrofe" eleitoral

Esteban Duarte e Patrick Donahue

26/01/2017 14h20

(Bloomberg) -- Líderes da Espanha e Alemanha expressaram temor de que a União Europeia possa ruir diante das forças que lutam para acabar com o bloco, citando a França como deflagradora do movimento.

Não há precedentes para o calendário eleitoral da Europa neste ano. Estão marcadas votações na França, Holanda e Alemanha - e possivelmente na Itália - que darão aos "inimigos" do continente chance de acabar com a UE, de acordo com o vice-chanceler alemão Sigmar Gabriel, do Partido Social Democrata. Ele apontou os que comemoram a saída do Reino Unido da UE entre os inimigos do bloco.

Paralelamente, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que foi desafiado pelo populismo no ano passado, manifestou preocupação com as eleições na França em abril e maio e com a votação parlamentar na Alemanha em setembro, que vão determinar a direção das duas maiores economias da zona do euro.

Vitórias pela Frente Nacional, na França, e pela Alternativa para a Alemanha iriam "destruir" o continente, ele disse.

"Não quero nem pensar nisso", disse Rajoy, cujo Partido Popular é integrante do mesmo grupo Cristão Democrata do qual faz parte o partido da chanceler alemã, Angela Merkel. "'Isso seria uma catástrofe," ele disse em entrevista à rádio Onda Cero.

Inspiração em Trump

Pesquisas de intenção de voto sugerem que a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, vai para o segundo turno, em 7 de maio, e que tem chance de assumir a presidência da França com um programa contrário ao euro e cético em relação à UE. No fim de semana, ela dividiu o palco com Frauke Petry, da Alternativa para a Alemanha, e com Geert Wilders, que defende uma plataforma contra o islã que dá chance de vitória ao Partido da Liberdade na eleição na Holanda, em 15 de março.

As forças contra o establishment na Europa se inspiram na surpreendente conquista da Casa Branca por Donald Trump e na vitória inesperada do Brexit no referendo do ano passado. Outro ponto em comum é a rejeição à imigração, que ganha força em meio à pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de 1 milhão de pessoas que fugiram da Síria, Afeganistão e outros países pediram asilo à Alemanha.

Gabriel, que deve se tornar ministro das Relações Exteriores após uma reforma ministerial vinculada à eleição de 24 de setembro, citou os dois turnos da eleição na França como momentos que vão traçar o destino da Europa. Nenhuma pesquisa mostra Le Pen perto de uma vitória no segundo turno, mas Trump e Brexit impedem os analistas políticos de descartar qualquer cenário.

"Se os inimigos da Europa, após o Brexit no ano passado, conseguirem sucesso de novo na França ou Holanda, então a ameaça a nós é o colapso do melhor projeto de civilização do século 20, a União Europeia", declarou Gabriel em discurso a deputados em Berlim, na quinta-feira.

Exportações alemãs

Ele se referiu às tendências protecionistas do governo Trump e de outros países como "muito, muito perigosas" para a economia global e para a Alemanha, especializada em carros de luxo, maquinário e químicos e terceira maior exportadora do mundo, atrás de China e EUA.

"Com a Europa orientada para a cooperação internacional, a Alemanha ficaria isolada e sozinha - e depois do Reino Unido e dos EUA, perderíamos mais parceiros", ele disse sobre os riscos adiante. "A situação quase não poderia ser mais dramática."
Já Rajoy, que governa com minoria, disse ter certeza de que o candidato republicano François Fillon ou os socialistas vencerão na França.

"É crucial para o futuro da Europa as eleições na Alemanha e França irem bem", disse o primeiro-ministro espanhol.