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Nova Zelândia lota de turistas e americanos dormem em casa Maori

Tracy Withers e Matthew Brockett

17/03/2017 13h22

(Bloomberg) -- Quando o voo de volta para os EUA, com saída de Auckland, de um grupo de 53 turistas americanos idosos foi adiado no mês passado, eles foram acomodados em um tradicional local de encontros Maori para passar a noite, já que todos os hotéis da cidade estavam cheios.

Os visitantes foram recebidos por um ancião e ganharam bolachas e uma xícara de chá antes de serem apresentados às suas acomodações para dormir -- colchões colocados no chão de uma sala do tamanho de uma quadra de tênis enfeitada com esculturas de madeira Maori.

"Nós brincamos com eles dizendo que aquilo era um pouco como voltar a ser jovem e estar em um acampamento de férias americano", disse Jenny Nuku, tesoureira do centro comunitário Maori, chamado Te Puea Marae. "Estavam todos rindo."

A acomodação alternativa acabou se tornando uma experiência cultural única, mas o ocorrido ilustra como a explosão do turismo na Nova Zelândia está levando a infraestrutura do país ao limite. Com 3,5 milhões de chegadas de curto prazo no ano passado -- 480.000 a mais do que o projetado apenas dois anos antes --, a falta de capacidade pode acabar prejudicando a maior fonte de moeda estrangeira do país.

As caminhadas panorâmicas por planaltos vulcânicos e vales alpinos cobertos de neve estão ficando congestionadas, enquanto as pequenas cidades que oferecem atividades de aventura, como passeios de lancha por rios elevados ou passeios guiados por glaciares de 7.000 anos, estão vendo seus sistemas de esgoto ficarem sobrecarregados.

"Se não corrigirmos isso e pensarmos a longo prazo, limitaremos nosso próprio crescimento", disse Quinton Hall, CEO da Ngai Tahu Tourism, uma das maiores operadoras de turismo de aventura do país. "Temos um limite natural para o nosso período de pico agora mesmo porque simplesmente não temos acomodações na Nova Zelândia. Mesmo se quisessem vir, os turistas não encontrariam lugar para dormir."

Não há quartos

O número de turistas deu um salto de 12 por cento em 2016 e deverá atingir 4,5 milhões até 2022 -- quase igualando a população atual do país, de 4,7 milhões. Uma pesquisa do governo realizada no ano passado identificou um provável déficit de mais de 4.500 quartos de hotel até 2025, levando em conta o plano atual de construir cerca de 5.200 quartos de hotel.

A taxa média de ocupação em Auckland é de 94 por cento em fevereiro e de cerca de 86 por cento ao longo do ano. A maior cidade do país está frequentemente cheia.

"Se não forem encontradas soluções imediatas é pouco provável que continuemos crescendo nos níveis atuais", disse Dean Humphries, diretor nacional de hotéis da Colliers International. "Se continuarmos recebendo mais turistas no país, para onde eles irão?"

A solução do déficit de acomodações ficará nas mãos de investidores privados como a Auckland International Airport e a Tainui Group Holdings. As empresas estão construindo um hotel cinco estrelas com 250 quartos próximo ao terminal internacional com a marca Pullman, da Accor, que deverá abrir no fim de 2019.

Até lá, Jenny Nuku pode esperar mais pedidos por acomodações de emergência no Te Puea Marae, cujo salão completo pode ser alugado por 500 dólares neozelandeses por dia. São menos de 10 dólares neozelandeses por pessoa para os 53 turistas americanos que dormiram lá no mês passado, e que tiveram como bônus um encontro autêntico com a cultura Maori.

"Eles disseram que haviam viajado por toda a Nova Zelândia e que essa foi a primeira experiência cultural real que tiveram", disse Nuku, rindo. "Eles usaram seus telefones e iPads para tirar selfies. Nós ficamos felizes por ajudar."