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Relatório de Diversidade do Uber deixa o mais importante de fora

Ellen Huet e Carol Hymowitz

29/03/2017 09h24

(Bloomberg) -- Após semanas de escândalo, o Uber divulgou na terça-feira seu primeiro relatório detalhando a divisão por gênero e a composição racial de seus funcionários. Apesar de terem sido comemoradas pelos defensores da diversidade, as revelações não foram tão surpreendentes: na área de Engenharia, apenas 15 por cento são mulheres e 6 por cento são negros, latinos ou multirraciais, de forma que o Uber não é tão diferente de outras empresas de tecnologia, nas quais esses grupos também respondem por uma minúscula fração da mão de obra técnica.

De fato, a informação mais elucidativa a respeito de diversidade no Uber nem sequer está em seu relatório. A retenção -- a porcentagem de cada grupo demográfico que permanece na companhia a cada ano -- revela mais sobre a hospitalidade da cultura do ambiente de trabalho do que a porcentagem de homens brancos e asiáticos na empresa em geral. A maioria das companhias, incluindo o Uber e seus pares do Vale do Silício, monitoram a informação, mas simplesmente não a divulgam.

Os dados de retenção são um indicador da satisfação com o trabalho e as empresas de tecnologia não conseguirão formar as forças de trabalho diversas que afirmam que buscam alcançar se não puderem segurar a pequena fração de mulheres e funcionários de minorias que conseguem recrutar. Desde 2014, as proporções demográficas nas empresas Apple, Facebook, Google, Twitter e outras continuam basicamente as mesmas: as mulheres respondem por cerca de 17 por cento dos trabalhadores técnicos; cerca de 6 por cento, apenas, são negros ou latinos.

Em todos os setores, poucas empresas divulgam dados sobre retenção de funcionários, mas as empresas de tecnologia têm se mantido consistentemente como meritocracias com base na tomada de decisões focada nos dados. Ao mesmo tempo, montaram bases homogêneas de funcionários e são criticadas por tolerar comportamentos e atitudes que fazem as minorias se sentirem desconfortáveis. No que diz respeito aos dados e à transparência, as empresas em geral se limitam a divulgar detalhamentos demográficos anuais e informações ocasionais a respeito de raça e gênero dos novos contratados.

"As pessoas procuram formas de contar uma boa história sobre sua diversidade e seus esforços de inclusão", disse Ellen Pao, cofundadora da Project Include, que defende mais diversidade no Vale do Silício. "O fato de as empresas de tecnologia não estarem compartilhando seus números sobre retenção indica que esses números provavelmente não sejam positivos."

Alguns estudos do setor dão respaldo à suspeita de Pao, pelo menos no que diz respeito às mulheres. Uma pesquisa de 2008 a respeito das mulheres no setor de tecnologia apontou que elas deixam seus empregos a uma taxa duas vezes maior que a dos homens. Um estudo de 2013 mostrou que após cerca de 12 anos, 50 por cento das mulheres dos campos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática -- principalmente Informática e Engenharia -- mudaram de profissão, contra 20 por cento das mulheres profissionais de outros campos. Os estudos não fizeram as mesmas perguntas a respeito de outros grupos sub-representados, mas um novo estudo do Centro Kapor de Impacto Social, esperado para abril, abordará essa questão.