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Na retirada do estímulo monetário, silêncio supera ambiguidade

Alessandro Speciale

17/05/2017 13h46

(Bloomberg) -- O silêncio pode ser a melhor opção para os bancos centrais se a alternativa for dar sinais vagos e suscetíveis a leituras conflitantes.

"Divulgar informação aberta a interpretação subjetiva pode aumentar a incerteza no mercado, especialmente em períodos de turbulência já elevada", escreveu Gaetano Gaballo, um economista do Banco Central Europeu em Frankfurt, em artigo publicado no website da instituição nesta quarta-feira. "Neste caso, a comunicação talvez não seja melhor do que o silêncio."

O dilema descrito no estudo é pertinente para as autoridades do BCE, que, ao longo de semanas, emitiram sinais divergentes sobre o plano para retirar estímulos monetários extraordinários. A "cacofonia" de mensagens contraditórias - conforme colocado por Benoît Coeuré, que é membro do Conselho Executivo - provocou a disparada no rendimento dos títulos e o aumento da volatilidade até a intervenção do presidente do BCE, Mario Draghi, para acabar com o debate.

Economistas e investidores esperam indicações sobre o caminho que o BCE pretende trilhar durante o discurso de Draghi após a reunião do Conselho Geral, em 8 de junho.

A conclusão de Gaballo ? que não necessariamente representa a opinião do BCE ? vai de encontro com a teoria amplamente aceita que defende que os bancos centrais divulguem "múltiplas fontes de informação detalhada". A hipótese é que, mesmo que todos os participantes do mercado compreendam determinada informação da mesma maneira equivocada, criando ineficiência, essa má interpretação seria desfeita com o tempo, à medida que novos dados são disponibilizados.

"A pesquisa descrita neste artigo contradiz aquela visão", escreveu Gaballo. A pesquisa "mostra que, mesmo se os anúncios de políticas resultarem em (mal) entendimento não correlacionado", o ruído nos mercados financeiros ainda pode "induzir erros correlacionados de projeção porque os agentes olham para os preços de mercado para melhorar suas previsões".

Um exemplo recente citado por Gaballo para sustentar esse argumento foi o abalo nos mercados após o anúncio pelo Federal Reserve em 2013 de que o afrouxamento quantitativo seria retirado gradualmente nos EUA ? situação que ficou conhecida como "taper tantrum". Os investidores, sem saber como interpretar essa informação, olharam para os movimentos de preços e alinharam sua leitura, criando volatilidade excessiva nos mercados financeiros.

"Quando a informação é vulnerável a interpretação subjetiva, um anúncio pode gerar mais incerteza do que clareza", afirmou Gaballo.