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Bancos penam para vender R$ 13,8 bi de bens tomados de devedores

Cristiane Lucchesi e Felipe Marques

20/06/2017 14h58

(Bloomberg) -- Os bancos brasileiros estão lutando para vender um montante crescente de ativos que eles prefeririam não possuir: ao menos R$ 13,8 bilhões (US$ 4,2 bilhões) em carros, imóveis, equipamentos e outras garantias tomadas de devedores inadimplentes.

O total aumentou 42 por cento no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado em oito das maiores instituições financeiras do país, segundo os balanços dos bancos, em um momento em que os efeitos da pior recessão da história do Brasil continuam pesando sobre o setor bancário. Os ativos representam até 27 por cento do patrimônio líquido em instituições de médio porte como o Banco Pine, o que prejudica os lucros, porque esses ativos não geram receita com comissões nem rendimento com juros.

Os órgãos reguladores estão tentando ajudar. Uma medida provisória (MP) foi promulgada em 7 de junho para eliminar A regra que exigia que os bancos vendessem os bens não de uso próprio em um prazo máximo de três anos. As mudanças foram propostas pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda, segundo a exposição de motivos da MP.

"Com mais tempo, os bancos podem adiar a venda desses ativos até conseguir um preço melhor", disse Eric Barreto, professor da Faculdade de Administração do Insper, de São Paulo, e da M2M Saber, em entrevista. "Mas, no tempo, se houver uma crise de liquidez como a que tivemos no fim de 2008, esses bancos com muitos imóveis nos ativos podem enfrentar problemas."

A crise política atual do Brasil está pesando nas perspectivas de retomada econômica, dificultando a recuperação do mercado imobiliário. Os preços dos imóveis caíram 0,16 por cento em maio em relação a abril, maior declínio já registrado no índice FipeZap, que foi criado em 2012. Nos últimos 12 meses, os preços das propriedades residenciais subiram 0,46 por cento, muito abaixo da taxa de inflação de 3,77 por cento do país medida pelo índice IPCA-15.

"O fato de os bancos estarem pedindo mais garantias significa que ainda há um ambiente de alto risco e que, devido à fragilidade da recuperação econômica, as avaliações das garantias atrairão escrutínio cada vez maior", disse Arjun Bowry, analista da Bloomberg Intelligence, em entrevista.

A Caixa Econômica Federal, estatal que é o maior banco de crédito imobiliário do Brasil, tem o maior montante de ativos retomados, segundo dados mais recentes do banco. O total engloba propriedades avaliadas em R$ 5,79 bilhões no fim do primeiro trimestre, 90 por cento a mais que no mesmo período do ano anterior e 9 por cento do patrimônio total. A Caixa não respondeu a um e-mail em busca de comentários.

No Banco Pine, esses ativos somam R$ 316,7 milhões, ou 3,6 por cento dos ativos totais e 27 por cento do patrimônio líquido de R$ 1,1 bilhão. Os ativos tomados aumentaram 10 por cento em relação ao ano passado. As ações do Banco Pine produziram um retorno total de 21 por cento negativos neste ano, pior desempenho entre os bancos brasileiros, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O Banco Pine informou, em comunicado enviado por e-mail, que a execução das garantias ajuda a preservar seu capital de prejuízos com empréstimos. A maior parte dos ativos são imóveis, informou o banco, que foram submetidos a análises de valor por especialistas de fora do banco, a mais recente feita em dezembro. O banco informou que normalmente trabalha com garantia excedente em relação ao valor do crédito.

Dinheiro em caixa

Claudio Gallina, analista da Fitch Ratings, disse não acreditar que os bens não de uso próprio representem um grande risco para os bancos brasileiros, especialmente os maiores, porque os preços dos imóveis "não diminuíram tanto".

Os bancos brasileiros também possuem posições de caixa elevadas no momento, o que limita os riscos de liquidez associados à posse desses ativos. Ele citou a Caixa como exemplo: o banco tinha R$ 5,8 bilhões em imóveis não utilizados em março, mas também reportou R$ 140 bilhões em caixa ou em títulos de alta liquidez.

Em outro banco de médio porte, o Banco Pan, que tem sede em São Paulo e é de propriedade conjunta do BTG Pactual e da Caixa, os ativos tomados aumentaram 23 por cento em relação ao ano passado, para R$ 339,8 milhões, ou 10 por cento do patrimônio líquido. Em comunicado enviado por e-mail, o Banco Pan afirmou que o cenário macroeconômico atual tornava esse aumento algo previsto.

Nos quatro maiores bancos do Brasil em valor de mercado, o total de bens tomados dos mutuários inadimplentes também aumentou, embora representem uma parcela menor do patrimônio e dos ativos totais.

Bradesco, Itaú

As provisões para perdas com garantias tomadas aumentaram 39 por cento no Banco Bradesco no primeiro trimestre, para R$ 1,29 bilhão, enquanto o total de imóveis, carros e equipamentos tomados aumentou 28 por cento, para R$ 3 bilhões.

"Enquanto não houver recuperação dos preços dos imóveis, o volume de provisões para esses ativos tende a continuar aumentando", disse Barreto, do Insper.

O que piora o problema é a decisão de muitos grandes bancos de fechar algumas agências. A medida diminui despesas, mas também pode adicionar os imóveis agora não utilizados à lista de propriedades dos bancos nos balanços patrimoniais.

Os números do Banco Santander Brasil e do Itaú Unibanco também mostram aumento. O Santander tem R$ 2,788 bilhões em garantias tomadas de credores inadimplentes, 7 por cento a mais do que no ano passado, e no Itaú o total subiu 65 por cento, para R$ 994,1 milhões.

O Banco do Brasil, que também é estatal, é o banco brasileiro mais bem posicionado, com um aumento de 8 por cento no total de garantias tomadas, para R$ 296,2 milhões. O montante representa apenas 0,02 por cento do total de ativos, de R$ 1,4 trilhão, e 0,33 por cento do patrimônio total do banco, de R$ 89,8 bilhões.

O Banco Votorantim, de médio porte, foi o único a apresentar queda, com uma redução de 3,5 por cento nas garantias totais tomadas dos credores inadimplentes no fim do primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

Título em inglês: Brazil Banks Struggle to Sell $4.2 Billion of Seized Collateral