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Desigualdade crescente pode ser verdadeiro risco da automação

Fernando Donasci/UOL
Imagem: Fernando Donasci/UOL

Carolynn Look

27/06/2017 09h18

(Bloomberg) -- Sua principal preocupação em relação à automação é perder o emprego? A história sugere que você provavelmente ficará bem.

Afinal, nem mesmo um século de avanços tecnológicos sem precedentes nos transportes, na produção e nas comunicações mexeu significativamente com a participação da mão de obra na renda nacional. Os economistas David Autor e Anna Salomons consideram que o motivo é que o principal motor do emprego, na verdade, tem sido o crescimento populacional, apesar de toda a ênfase colocada nos círculos acadêmicos em como as máquinas superam o trabalho humano e também em por que elas acabarão nos substituindo de todos modos.

A maior preocupação, dizem eles, é como os avanços tecnológicos afetarão a distribuição de ganhos.

Em essência, o argumento que a dupla apresenta é que, sempre que houve humanos, houve empregos --um assunto que David Autor, que trabalha no Departamento de Economia do MIT, anteriormente analisou em uma conferência Ted.

Eles sugerem que a oferta de mão de obra e a demanda final por bens e serviços são o que realmente determina o nível de emprego, já que os trabalhadores consumidores têm cada vez mais necessidades.

A pesquisa de Autor com Salomons, que trabalha na Universidade de Utrecht, na Holanda, será apresentada nesta terça-feira a chefes de bancos centrais de todo o mundo no fórum do Banco Central Europeu em Sintra, Portugal.

O que mudou como consequência da produtividade maior por meio dos avanços tecnológicos é a forma de remunerar os empregos.

"Embora a contagem bruta de empregos disponíveis nos países industrializados esteja aproximadamente no mesmo ritmo do crescimento populacional", escrevem os economistas, "muitos dos novos empregos gerados por uma economia cada vez mais automatizada não oferecem um padrão de vida estável e sustentável".

"Simultaneamente, muitas ocupações de alta remuneração que são fortemente complementadas pelo avanço da automação estão fora do alcance dos trabalhadores que não possuem educação universitária."

Ou seja, se o problema não está na queda da demanda agregada de mão de obra e sim na distribuição cada vez mais distorcida dos empregos -- e, em última análise, dos ganhos --, os humanos podem precisar redirecionar o foco do significado da tecnologia para o futuro do trabalho.