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Maiores empresas de tecnologia se unem no campo da política

Dina Bass e David Ingold

27/06/2017 14h27

(Bloomberg) -- No domingo 29 de janeiro o presidente da Microsoft, Brad Smith, convocou uma teleconferência com os principais advogados e especialistas em políticas da Apple, Amazon, Facebook, Google, da Alphabet, e outras empresas de tecnologia, segundo pessoas com conhecimento da reunião. A ordem executiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender as viagens provenientes de sete países majoritariamente muçulmanos havia deixado funcionários presos e ameaçado equipes das empresas. Agora, as empresas se uniam para definir como proceder.

Uma semana depois, as ideias geradas durante essa conferência se transformaram na base de um memorando jurídico exaltado assinado por mais de 120 empresas que se opõem à proibição. Ontem, a Corte Suprema dos EUA reinstalou algumas partes da proibição e disse que ouvirá argumentos sobre o caso no quarto trimestre.

Este é um caminho no qual as cinco maiores empresas de tecnologia -- que também são as cinco maiores empresas dos EUA em valor de mercado -- estão deixando de lado batalhas às vezes amargas relacionadas a produtos e diferenças comerciais para cooperarem em um nível mais profundo do que antes em temas como imigração, privacidade de dados, segurança cibernética e direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.

"Algumas questões políticas importantes, como a reforma da vigilância e a imigração, transcendem rivalidades comerciais", disse Kent Walker, vice-presidente sênior e conselheiro geral do Google. "Em relação a essas questões, temos argumentos mais fortes e mais informados quando somos uma só voz."

As sementes da colaboração são anteriores a Trump. Elas foram semeadas após a acusação de Edward Snowden, em junho de 2013, de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA havia conseguido acesso a dados de empresas como Apple, Google, Microsoft e Facebook. Naquele mês, o Google e a Microsoft apresentaram requerimentos na mesma semana pedindo permissão para divulgarem quantas vezes receberam ordens de compartilhar dados com o governo dos EUA ao abrigo da Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira. Com isso, os dois arquirrivais passaram a negociar juntos do mesmo lado contra o Departamento de Justiça dos EUA. Mais tarde, o Facebook entrou na briga.

Em 2014, a Amazon e a Apple apoiaram a Microsoft em outra briga com o Departamento de Justiça relacionada à privacidade de dados armazenados no exterior. O negócio de nuvem da Amazon, de rápido crescimento, empurrou a empresa mais longe em questões envolvendo privacidade de dados dos clientes, enquanto a Apple ficou sob os holofotes em relação às políticas de criptografia no ano passado, quando o FBI exigiu que a fabricante do iPhone hackeasse o aparelho de um dos atiradores do ataque terrorista de dezembro de 2015 em San Bernardino, na Califórnia.

Dez anos atrás, algumas dessas empresas deixavam muitas questões sobre políticas para as associações do setor. Às vezes, as rivais compunham várias associações e as usavam para marcar pontos umas contra as outras. Ocasionalmente, elas tentavam usar os órgãos reguladores como armas -- a Microsoft encorajou as autoridades antitruste europeias a voltarem suas baterias contra o Google, enquanto o presidente do conselho do Google, Eric Schmidt, reuniu apoio para o processo do governo dos EUA contra a Microsoft, no fim da década de 1990, antes de se unir à gigante das buscas pela internet. Nos últimos anos, a Microsoft e o Google fizeram as pazes e resolveram suas pendências jurídicas em 2015 e as cinco empresas perceberam que, às vezes, faz sentido deixar de lado diferenças comerciais em nome de objetivos comuns no campo das políticas. Algumas das mudanças ocorreram quando Facebook, Google e Amazon amadureceram e se tornaram mais ativas no ramo da advocacia pública.

"As cinco empresas competem vigorosamente entre si no mercado, mas têm bases comuns em termos de políticas e questões regulatórias", disse Smith, da Microsoft. "No passado, a concorrência no mercado gerava mais tensões regulatórias -- mas nos anos mais recentes reconhecemos que temos interesses comuns globalmente sobre questões regulatórias e políticas importantes."

Título em inglês: Once Bitter Rivals, the Biggest Tech Firms Find Common Ground on Policy