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Em modo 'sobrevivência', governo costura rejeição de 1ª denúncia

Simone Iglesias, Samy Adghirni e Rachel Gamarski

06/07/2017 20h56

(Bloomberg) -- Antes de deixar o país para encontro do G-20, o presidente Michel Temer lançou mão de boa parte do seu arsenal para garantir que o primeiro pedido de instauração de inquérito seja rejeitado pela Câmara, segundo parlamentares e auxiliares presidenciais ouvidos pela Bloomberg.

Nesta quinta-feira, governo conseguiu evitar que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, falasse à comissão. Desde que o pedido foi apresentado pela oposição, o Palácio do Planalto atuou para impedir a ida de Janot sob o argumento de que sua presença não está prevista no regimento, disse um integrante do governo a par das negociações. As discussões na CCJ já serão naturalmente tumultuadas pelas disputas entre base aliada e oposição e Janot colocaria ainda mais combustível, afirmou este auxiliar presidencial sob condição de anonimato.

"A primeira denúncia não passa na Casa", disse o deputado Covatti Filho (PP-SP) em entrevista. "O governo tem gordura para queimar, mas não sei se a gordura aguenta três votações".

Parlamentares mais experientes, inclusive da oposição, concordam com a avaliação de que governo tem os votos para se manter no poder desde que faça frente às demandas crescentes dos deputados por cargos e liberação de verbas.

Até então fora do radar do Congresso, uma Proposta de Emenda à Constituição que distribui recursos públicos para os partidos em 2018 foi apresentada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá, para ser votada em 1º turno no plenário da Câmara antes do início do recesso, disse uma pessoa com conhecimento direto do assunto. A PEC, que cria um fundo de cerca de R$ 4 bilhões para financiar as próximas eleições, foi desenhada de forma a não ser contabilizada no teto dos gastos.

"Fundo partidário é imoral para a população, mas é republicano, está na lei", disse o deputado Major Olímpio (SDD-SP), que foi substituído como membro da CCJ por ser visto como pouco leal a Temer. Entrou em seu lugar o líder do Solidariedade, Aureo Ribeiro, que também acabou sendo trocado por aparecer como indeciso nas pesquisas de jornais. Por fim, a cadeira ficou com o deputado Laercio Oliveira. "Esse troca-troca, esse toma-lá-dá-cá, essas agendas do presidente, isso é a coisa mais podre", disse.

Para o líder do PRB na Câmara, Cleber Verde, o presidente tem apoio significativo na casa. Seu partido tem três cadeiras na CCJ e comanda o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. "Vejo clima satisfatório, até porque a peça de acusação é fraca, não traz provas", disse.

Os votos do chamado centrão e de deputados considerados de baixo clero são vistos como fundamentais por integrantes do governo. Na semana passada, quando Temer criticou a denúncia de Janot em pronunciamento oficial, parlamentares desses dois grupos o cercaram e aplaudiram. Do principal aliado, o PSDB, apenas o senador Paulo Bauer foi visto. Tucanos têm tido uma postura oscilante em relação à aliança com o governo.

Antes de embarcar, ainda na base aérea, Temer transmitiu o cargo ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), terceiro na linha sucessória. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), viajou para a Argentina na manhã desta quinta-feira com anuência do Planalto. Segundo um deputado próximo a Maia, o democrata não demonstra atuar pela queda de Temer, mas admite estar sob intensa pressão de colegas que vislumbram um novo governo.

Procurada, a Presidência da República não respondeu de forma imediata aos pedidos de comentário da Bloomberg fora do horário comercial.

--Com a colaboração de Gabriel Shinohara e Luisa Marini