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Syngenta defende pesticida ligado a mortes de abelhas

Agnieszka de Sousa

14/07/2017 13h45

(Bloomberg) -- A Syngenta defendeu os pesticidas que, segundo mostram diversos estudos, estão ligados a mortes de abelhas. A empresa afirma que a ampliação da proibição na Europa levaria os agricultores a usarem alternativas piores e reduziria o rendimento das safras.

A empresa, que foi comprada pela China National Chemical Corporation por US$ 43 bilhões neste ano, afirmou após o último estudo que os compostos neonicotinoides são apenas um dos problemas que afetam os insetos. Apesar de a visão da Syngenta ser respaldada pelo relatório científico divulgado no mês passado, seu autor principal afirmou que a relutância do setor em admitir os problemas estava se tornando insustentável.

"Inúmeros fatores estão afetando a saúde das abelhas", disse o CEO da Syngenta, Erik Fyrwald, em entrevista, em Bruxelas. "Um dos menores desses fatores é o pesticida. Por isso nos surpreende que a discussão como um todo se concentre nos pesticidas. Não apenas nos pesticidas, especificamente nos neonicotinoides."

Após anos de declínio das colônias de abelhas e vários estudos indicando danos causados pelos neonicotinoides, o braço executivo da União Europeia está preparando propostas para uma proibição permanente. O dilema das autoridades, das fabricantes de pesticidas, dos cientistas e dos agricultores é como evitar novos danos às abelhas, que são essenciais para a polinização de mais de 80 por cento das lavouras e plantas selvagens da região, e também preservar a oferta de alimentos, que depende desses compostos.

Safras menores

Para Fyrwald, da Syngenta, uma nova proibição aos neonicotinoides forçaria os agricultores a usarem alternativas menos efetivas, o que significa que a produção cairia, mesmo que sejam espalhados mais produtos químicos na terra. Ele destacou o declínio das safras de colza desde que a proibição temporária da UE entrou em vigor, em dezembro de 2013, porque as fazendas têm dificuldades para controlar a propagação de besouros-saltadores, e acrescentou que a colza é fonte de alimento de insetos polinizadores como as abelhas.

A colheita de colza aumentou na safra 2014-2015 da UE, na qual o plantio ocorreu antes da proibição, depois caiu 19 por cento nas duas temporadas seguintes até 2016-2017, segundo dados compilados pelo mercado comum.

"Consideramos que alguns desses inseticidas não são tão efetivos e, portanto, eles [agricultores] estão tendo que usar mais e obtendo rendimentos menores", disse Fyrwald. "É fundamental que os agricultores europeus não sejam despojados de ferramentas importantes sem que haja uma base científica clara."

A Syngenta e a Bayer entraram em confronto com a UE na Justiça neste ano por causa da proibição. No entanto, isso não desmotivou a Comissão Europeia a redigir propostas que praticamente proibiriam os pesticidas fora de estufas. Apesar de ainda não ter apresentado os planos formalmente, o órgão executivo enviou o projeto de regulação ao Parlamento Europeu em março.

Por sua vez, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar está analisando dados e estudos para uma reavaliação completa dos neonicotinoides programada para novembro, informou um porta-voz do órgão.

O debate ganhou mais destaque nas últimas duas semanas com a divulgação de um estudo publicado na revista Science, que é revisada por pares, mostrando que os neonicotinoides afetaram as abelhas na Hungria e no Reino Unido. Por outro lado, a pesquisa não apontou nenhum dano para as abelhas que hibernavam na Alemanha, o terceiro país envolvido.

A Syngenta, que reservou US$ 1,3 bilhão por ano para pesquisas, aumentará os investimentos em estudos sobre sementes e proteção de lavouras após a aquisição pela ChemChina, disse Fyrwald.

--Com a colaboração de Nikos Chrysoloras

Versão em português: Patricia Xavier em Sao Paulo, pbernardino1@bloomberg.net.

Repórter da matéria original: Agnieszka de Sousa em Londres, atroszkiewic@bloomberg.net.