Preço do minério de ferro vai recuar junto com economia chinesa
(Bloomberg) -- Talvez a tonelada de minério de ferro na casa de US$ 70 seja o melhor nível possível por um bom tempo. A valorização da commodity em junho e julho pode se reverter no segundo semestre, com a normalização da produção de aço na China a partir de um ritmo recorde, justamente no momento em que as mineradoras globais aumentam o volume produzido.
A demanda robusta que sustentou essa alta deve ficar mais fraca à medida que as siderúrgicas começam a reduzir a produção, de acordo com a Capital Economics. Citigroup, Sucden Financial, Axiom Capital Management e Academia Capital também preveem queda do preço.
"Havia suporte fundamental para a disparada do minério de ferro, especificamente o forte crescimento da produção siderúrgica na China", afirmou Caroline Bain, economista-chefe para commodities da Capital Economics. "Os estoques nos portos da China estão persistentemente elevados e, se a produção e a demanda de aço recuarem mais adiante, o que parece provável, então o preço do minério de ferro voltará a ficar sob pressão."
A cotação do minério de ferro foi puxada pela demanda da China. Usinas siderúrgicas se beneficiaram do aumento de preços e de margens de lucro generosas após o governo ter fechado alguma capacidade. Os empreendimentos restantes estão fabricando volumes recordes, ajudando a absorver oferta maior do Brasil e da Austrália e auxiliando mineradoras como a Rio Tinto Group e a brasileira Vale. Mesmo instituições não tão pessimistas em relação ao preço do minério, como a Clarksons Platou Securities, projetam alguma reversão.
'Exageradamente pessimista'
"Embora acreditemos que o mercado esteja exageradamente pessimista em relação ao minério de ferro, não esperamos que os preços continuem onde estão", afirmou Jeremy Sussman, diretor-gerente para metais e minérios da Clarksons Platou, que prevê queda para aproximadamente US$ 60 no quarto trimestre, permanecendo nesse nível ao longo de 2018. Ele cita, entre os fatores que sustentam a cotação, as reformas na estrutura da oferta vinda da China e a disciplina demonstrada pelas quatro grandes mineradoras do mundo (Rio Tinto, Vale, BHP Billiton e Fortescue Metals Group).
O preço à vista da tonelada seca de minério com teor de 62 por cento de ferro entregue no porto de Qingdao caiu pelo quarto pregão consecutivo para US$ 72,97 nesta quarta-feira, de acordo com a Metal Bulletin. A matéria-prima se recuperou em relação a um patamar mínimo próximo a US$ 50 em meados de junho e atingiu US$ 76,68 na semana passada, a maior cotação desde abril.
Dados da economia chinesa divulgados nesta semana sinalizaram desaquecimento. Índices que acompanham produção industrial, investimentos e consumo apresentaram resultados menores. O setor imobiliário - importante vetor da demanda por aço - também está perdendo fôlego. Yao Wei, economista-chefe para China do Société Générale em Paris, afirmou que o pico de crescimento deste ciclo "ficou para trás", citando a menor expansão das vendas de residências, que funcionam como indicador antecedente.
Por ora, a produção de aço se mantém em níveis sem precedentes. Em julho, foram 74 milhões de toneladas ou 10 por cento a mais do que um ano antes. Ainda assim, a sazonalidade na China é de produção menor no segundo semestre.
Os embarques pelos maiores produtores devem chegar a 313,6 milhões de toneladas no terceiro trimestre, de acordo com relatório da Sanford C. Bernstein. "Há uma grande abundância de minério de ferro", declarou o responsável por pesquisa de commodities do Citigroup, Ed Morse, em entrevista à Bloomberg TV.
O fundo de hedge Academia Capital relata que compras de caráter especulativo ajudaram a impulsionar os preços de matérias-primas como o minério de ferro e que esses ganhos podem se reverter com a desaceleração do crescimento econômico na China.
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