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Brasileira Valid atrai aposta do GIC e mira EUA e China

Paula Sambo e Christiana Sciaudone

24/08/2017 16h37

(Bloomberg) -- O fundo de investimentos GIC, de Cingapura, se transformou recentemente no principal acionista de uma pequena produtora brasileira de documentos, unindo-se a uma das empresas de investimentos mais bem-sucedidas do País, a Alaska, ao apostar na pouco conhecida Valid.

Com lucro altamente dependente do Brasil e de contratos com o governo, a Valid está se voltando cada vez mais aos EUA e espera entrar na China para expandir sua receita, disse a diretora Financeira da companhia, Rita Carvalho. A empresa com sede no Rio de Janeiro também está tentando se afastar dos talões de cheques, dos cartões SIM removíveis e dos documentos tradicionais e incursionando em software, segurança biométrica e SIMs permanentes. Além disso, está expandindo seu negócio de carteiras de motorista pelo mundo.

"Temos que adaptar a empresa", disse Carvalho em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. A Valid Soluções e Serviços de Segurança em Meios de Pagamento e Identificação S.A., contudo, não está tentando se transformar em uma startup de tecnologia. "Não investimos milhões de dólares para tentar encontrar a próxima evolução. Fazemos o oposto. Nós entendemos as necessidades e oferecemos soluções bastante personalizadas."

Carvalho disse que o GIC, o fundo soberano de investimentos com mais de US$ 100 bilhões em ativos sob gestão em mais de 40 países, se transformou no maior acionista da Valid no ano passado, com uma participação de 10 por cento. O grupo preferiu não comentar essa reportagem.

Como boa parte das empresas do Brasil, a Valid foi maltratada pela pior recessão da história do País. A crise, juntamente com a tendência de distanciamento em relação aos métodos de pagamento tradicionais, fez a penetração do cartão de crédito no Brasil cair de 60 por cento para 30 por cento -- uma má notícia para a Valid, considerando que os chips dos cartões são um segmento fundamental para a empresa. A recessão no Brasil forçou a companhia a olhar para o exterior em busca de novas avenidas de crescimento.

Os resultados têm demorado para aparecer. O lucro líquido do segundo trimestre, divulgado no início deste mês, ficou abaixo da pior estimativa e as ações da empresa acumulam queda de 18 por cento no ano, resultado que contrasta com a alta de 16 por cento do Ibovespa.

"A empresa tem capacidade para gerar muito mais dinheiro", disse Luiz Alves Paes de Barros, magnata cuja empresa Alaska Investimentos está entre os fundos de melhor desempenho do Brasil. A avaliação da firma é muito baixa, mesmo para tempos difíceis, disse ele.

A Alaska possui participação de 5,2 por cento na Valid.

As concorrentes não estão se saindo muito melhor. Em março, a Gemalto reduziu sua projeção para o ano, o que derrubou suas ações a uma mínima recorde. As ações da empresa holandesa caíram fortemente de novo em abril após um alerta de queda da demanda dos bancos dos EUA. No mês passado, mais uma vez, a Gemalto sofreu uma queda após anunciar uma perda por baixa contábil (goodwill impairment) de cerca de 420 milhões de euros (US$ 492 milhões).

A Valid espera que sua aposta no exterior compense os resultados no Brasil. A empresa começou a emitir carteiras de motorista no estado de Washington neste ano -- é a emissora dominante no Brasil -- com a esperança de oferecer os serviços também a outros estados dos EUA. Carvalho preferiu não fornecer detalhes sobre a expansão da empresa para a China, dizendo apenas que pode ocorrer "em breve".

"Veremos mais receitas vindas de fora do Brasil", disse Carvalho.

--Com a colaboração de Daniel Cancel Arie Shapira Daniela Milanese e Klaus Wille