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Catalunha ignora estado de direito e irrita empresas da região

Charles Penty

14/09/2017 15h43

(Bloomberg) -- Félix Revuelta não aguenta mais a política catalã.

Depois de dirigir sua empresa de produtos nutricionais Naturhouse Health em Barcelona durante pelo menos 25 anos, Revuelta transferiu no mês passado a sede da companhia para Madri. O presidente da Naturhouse estava preocupado com um referendo inconstitucional sobre a independência que os separatistas pretendem realizar no dia 1º de outubro, ignorando as decisões dos tribunais espanhóis.

"As empresas precisam de segurança jurídica", disse Revuelta em entrevista. "A tensão vem aumentando dentro da sociedade catalã e entre a sociedade catalã e o resto do país."

A Naturhouse não é a única empresa alarmada com a situação na maior economia regional da Espanha. Algumas empresas dos EUA cujas operações espanholas têm sede em Barcelona prepararam planos que lhes permitiriam sair da Catalunha imediatamente se a região se separar, disse Jaime Malet, presidente da Câmara de Comércio dos EUA na Espanha.

"Ninguém gosta de investir em lugares onde há problemas", disse ele, em entrevista por telefone.

Crise constitucional

A campanha da Catalunha para se separar da Espanha se transformou em uma crise constitucional, e o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, usa toda a força da lei para tentar impedir o referendo ilegal. Depois que o presidente catalão, Carles Puigdemont, conseguiu a aprovação do projeto de lei do referendo na semana passada, os promotores espanhóis apresentaram acusações penais contra os líderes separatistas e ordenaram que seus funcionários na região interroguem todos os prefeitos locais que ajudem a organizar a votação.

A lei, que foi suspensa pelo Tribunal Constitucional da Espanha, permitiria que a assembleia declarasse sua independência dentro de 48 horas após uma votação pelo "sim", sem participação mínima necessária para validar o resultado.

Malet disse que, em sua opinião pessoal, Rajoy tem armas jurídicas suficientes para garantir que a tentativa de independência da Catalunha não dê em nada. As pesquisas de opinião também mostram que o apoio à separação vem caindo nos últimos quatro anos, porque a recuperação econômica afasta os eleitores moderados da causa. Mesmo assim, é lógico que os conselhos das empresas tenham à mão os documentos necessários para poder se mudar dentro de 24 horas, caso seja necessário, disse Malet.

Jaime Guardiola, CEO do Banco Sabadell, com sede perto de Barcelona, disse que embora tenha visto poucas empresas seguirem o exemplo da Naturhouse até agora, seria lógico que os executivos preparem planos de contingência, de acordo com um relatório da Efe. O ministro da Economia, Luis de Guindos, no entanto, minimizou o risco.

"Não houve mudanças significativas", disse Guindos na quarta-feira em comentários televisionados, acrescentando que seria "irracional" pensar que a separação poderia acontecer.

Até agora, os investidores assumiram uma atitude relativamente otimista em relação ao risco de separação. Embora o diferencial que os investidores cobram para optar pela dívida espanhola de 10 anos em vez dos títulos alemães tenha aumentado 24 pontos-base, para 118, desde o início de agosto, ele continua em consonância com a média do ano.

Para entrar em contato com o repórter: Charles Penty em Madri, cpenty@bloomberg.net.

Para entrar em contato com a editoria responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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