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Investidores questionam continuidade da alta dos emergentes

Bloomberg News

25/09/2017 15h25

(Bloomberg) -- Nada parece capaz de conter o avanço dos mercados emergentes neste ano ? nem os mísseis de Kim Jong-Un, nem a retórica protecionista do presidente americano, Donald Trump, nem os tantos solavancos políticos de Brasil, África do Sul e Turquia.

Os investidores preferem focar na desaceleração da inflação, na recente recuperação dos preços das commodities e em bancos centrais que usam métodos mais convencionais de política monetária do que suas contrapartes nos países desenvolvidos.

O MSCI EM Currency Index e o índice Bloomberg Barclays que acompanha títulos públicos de países emergentes denominados em moeda local atingiram neste mês seus maiores níveis em três anos. Um indicador das bolsas de nações em desenvolvimento está perto do maior patamar desde 2011.

E agora que o banco central dos EUA (Federal Reserve) apresentou um plano de redução de estímulos que tende a empurrar para baixo os preços de títulos do Tesouro americano de prazo mais longo, o otimismo se renovou. Há quem diga que o movimento de valorização apenas começou.

Para outros, a animação está perigosamente perto de acabar. "Todos nós curtimos a festa, mas talvez seja o finalzinho agora e pode haver mais volatilidade no fim do ano", disse Peter Schottmueller, responsável por alocação de ativos da Deka Investment, em Frankfurt, que ajuda a administrar o equivalente a US$ 7,8 bilhões. "O mercado é muito míope e muito focado no curto prazo.''

O ritmo de captação pelas empresas superou o de crescimento econômico durante o período de cinco anos até 2016, de acordo com o Banco de Compensações Internacionais (BIS). Por isso, questiona-se a continuidade desse movimento enquanto os bancos centrais das economias desenvolvidas preparam a retirada de estímulos quantitativos, explicou Toru Nishihama, economista para mercados emergentes da Dai-ichi Life Research Institute, em Tóquio.

O Brasil ilustra como poucos a resistência das ações dos países em desenvolvimento. A economia sai de sua pior recessão da história e escândalos de corrupção atrapalham a reforma da Previdência proposta pelo presidente Michel Temer. Ainda assim, a Bovespa bateu recorde. Neste mês, o Bank of America Merrill Lynch subiu o preço-alvo para o Ibovespa, vendo espaço amplo para mais exposição a ações brasileiras no segmento de fundos mútuos.

As economias emergentes se expandiram 4,4 por cento em 2016, quase metade do ritmo observado há uma década, quando o Fed estava no último ano de um ciclo de aperto nos juros. "Ainda existe diferença entre as taxas de crescimento das economias emergentes e desenvolvidas, além da diferença nas taxas de retorno sobre o investimento, e os investidores continuarão despejando dinheiro nos mercados emergentes", disse Nishihama. "No entanto, a partir daqui, nem todas as aplicações em mercados emergentes são boas e os investidores podem se tornar mais seletivos em termos dos países em que investem."

A África é outro exemplo de otimismo. A emissão de eurobônus por governos africanos já é a maior registrada em qualquer ano, somando US$ 14,6 bilhões, apesar de diversos países terem sofrido rebaixamento da nota de classificação de risco, como África do Sul e Namíbia. O continente agora não tem nenhum país com grau de investimento. Além disso, os títulos de Moçambique - país que decretou moratória em janeiro e sequer iniciou negociações com investidores sobre a reestruturação das dívidas - são os de segundo melhor desempenho neste ano nos mercados emergentes (após Belize). Os preços dos papéis subiram 31 por cento.

Com a baixa volatilidade cambial, todas as 21 moedas de países emergentes negociadas no mercado global ofereceram retorno positivo no chamado carry trade (operação na qual os investidores se aproveitam da diferença nas taxas de juros de diferentes países) neste ano. Os fundamentos permanecem sólidos ? passando por taxas reais de rendimento, contas externas e dinâmica de crescimento ? e a compressão da volatilidade estimula o carry trade, afirmou Jason Daw, estrategista-chefe para mercados emergentes do Société Générale em Cingapura, em relatório de 21 de setembro.

--Com a colaboração de Masaki Kondo