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Caribe mira energia solar após furacões, mas não sairá barato

Emma Ockerman

29/09/2017 14h02

(Bloomberg) -- Nas ilhas caribenhas mergulhadas na escuridão após os furacões Irma e Maria, os sistemas elétricos mais resilientes e de pequena escala alimentados pelo Sol parecem cada vez mais atraentes. Transformar uma rede, contudo, não é barato.

Em sua defesa das chamadas microrredes, a organização ambiental sem fins lucrativos Rocky Mountain Institute ressaltou que as instalações solares das ilhas Turks e Caicos permaneceram em sua maioria intactas, enquanto que a distribuidora local de energia reportou a queda de mais de 1.200 postes de luz. O mesmo ocorreu na ilha Necker de Richard Branson. Até mesmo Bruce Walker, escolhido para comandar o escritório de eletricidade do Departamento de Energia, classificou a devastação da rede de Porto Rico como uma oportunidade para testar tecnologias que a deixarão mais resistente às tempestades.

O problema é o preço. Segundo estimativas do Rocky Mountain Institute, a construção de cerca de 90 megawatts de capacidade de energia solar e armazenamento em uma cadeia de ilhas do Caribe custaria cerca de US$ 250 milhões. A capacidade é suficiente para abastecer cerca de 15.000 residências nos EUA. Pode ser suficiente para Turks e Caicos, mas em Porto Rico, país maltratado pelas tempestades e pelas dívidas, moram cerca de um milhão de famílias.

Claro, agora há muito interesse em sistemas de energia de pequena escala, disse Yayoi Sekine, analista de armazenamento de energia da Bloomberg New Energy Finance. "Mas sem apoio estatal ou financiamento externo é muito difícil ver microrredes comunitárias prosperarem ou mesmo receberem algum investimento."

Alguns esforços de financiamento estão em andamento. No início do mês, o Departamento de Energia dos EUA anunciou a entrega de US$ 50 milhões aos seus laboratórios nacionais para a pesquisa de tecnologias que deixariam as redes elétricas do país mais resilientes. E mesmo antes da chegada dos furacões Irma e Maria, o Rocky Mountain Institute tinha esperanças de conseguir US$ 300 milhões em financiamento para projetos de energia nas ilhas até 2020.

'Completamente destruída'

A infraestrutura existente nas ilhas foi "completamente destruída, por isso temos uma estratégia clara de reconstruir com energia 100 por cento renovável", disse Justin Locke, diretor do Programa de Energia para Ilhas do instituto, por telefone.

As energias renováveis não resolverão sozinhas o problema da região. Os proprietários de painéis solares de Porto Rico são testemunhas.

A Sunnova Energy, maior fornecedora de energia solar desse território dos EUA, não tem ideia se seus 10.000 sistemas sobreviveram aos furacões em sequência deste mês. E mesmo que tenham sobrevivido, os painéis não seriam capazes de alimentar as casas dos clientes, disse o CEO da empresa, John Berger, em entrevista na quinta-feira.

O motivo é que os painéis solares dependem do sistema local para fornecer eletricidade, mesmo que a energia seja apenas para a casa do cliente. E com a infraestrutura energética de Porto Rico fora de serviço, possivelmente por meses, os painéis da Sunnova não podem ajudar.

"Foi devastador", disse Berger. "O sistema de distribuição foi destruído."

O Programa de Energia para as Ilhas está trabalhando em 10 ilhas do Caribe normalmente alimentadas por diesel para desenvolver planos energéticos, analisar aspectos econômicos e identificar partes interessadas para preparar projetos para o mercado. As iniciativas ainda não têm financiamento, mas desde os furacões existe um interesse em ampliar os esforços de socorro, disse Locke.

--Com a colaboração de Christopher Martin