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Incêndios comprometem empresa de eletricidade da Califórnia

Mark Chediak

27/10/2017 16h10

(Bloomberg) -- As ligações para o telefone de emergência começaram antes da meia-noite, com relatos de quedas das linhas de energia e de explosões em transformadores. As chamas cresceram rapidamente e se transformaram em um dos incêndios mais mortais da história da Califórnia -- e logo a PG&E virou alvo de acusações.

Os investigadores podem nunca conseguir determinar o que iniciou os incêndios na região vinícola, mas a PG&E, uma das maiores distribuidoras de eletricidade do país, não consegue se desvincular da catástrofe. A simples sugestão de que os equipamentos da empresa podem ser os culpados foi suficiente para derrubar suas ações, eliminando cerca de US$ 6 bilhões em valor. Os papéis fecharam em US$ 57,14 na sexta-feira, com queda acumulada de 17 por cento desde 9 de outubro, primeiro dia de negociação após o início dos incêndios.

Um dos motivos: segundo a lei da Califórnia, se comprovado que algum equipamento da PG&E gerou uma faísca, a empresa pode ser responsabilizada pelos danos -- mesmo que tenha feito tudo direito. Não é necessário que tenha havido negligência.

Os investidores estão assustados, disse Jonathan Arnold, analista do Deutsche Bank Securities. "Por que continuariam oferecendo capital a empresas de eletricidade privadas se essas empresas podem ser responsabilizadas por danos materiais em caso de grandes catástrofes, independentemente de serem ou não encontradas falhas em suas operações?"

Os investidores começaram a se desfazer das ações da empresa com sede em São Francisco em 12 de outubro. A primeira ação judicial foi aberta cinco dias depois por um casal de Santa Rosa que perdeu a casa e acusa a PG&E de não fazer manutenção, nem inspecionar as linhas de transmissão.

A ação alega que equipamentos da PG&E "entraram em contato com a vegetação e provocaram um incêndio florestal", sem especificar quando, nem onde.

A Comissão de Serviços Públicos da Califórnia (PUC, na sigla em inglês) e o Departamento de Silvicultura e Proteção Contra Incêndios da Califórnia, conhecido como Cal Fire, estão investigando o que iniciou os incêndios. Na quarta-feira, a PUC expandiu de três para oito condados a abrangência da ordem para que a PG&E "preserve todas as evidências" nas áreas afetadas pelos incêndios e ampliou o número de incêndios florestais de sete para 15.

Apesar de apontarem as falhas das linhas de energia como possível agente, os investigadores "podem nunca descobrir" a causa real, disse Michael Picker, presidente da PUC, na semana passada. É possível que simplesmente já não sobrem evidências suficientes após as grandes chamas que consumiram 100.000 hectares e causaram 42 mortes.

A PG&E afirmou que não especulará sobre o que iniciou as múltiplas conflagrações. "O que as causou? A resposta simples é que ainda não sabemos", escreveu a CEO Geisha Williams, em artigo de opinião publicado no jornal San Francisco Chronicle. Ela ressaltou, no entanto, que houve "rajadas extremas" de vento no norte da Califórnia e citou comentário de representante do Cal Fire de que os ventos contribuíram para o pior "incêndio" que viu em 30 anos de carreira.