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Embraer enfrenta caminho 'confuso' para acordo com Boeing

Fabiola Moura, Paula Sambo e Christiana Sciaudone

22/12/2017 13h53

(Bloomberg) -- Os investidores da Embraer comemoram uma possível parceria com a Boeing, mas só um acionista realmente importa.

O governo do Brasil possui uma "golden share", que lhe concede poder de veto sobre uma venda, e o presidente Michel Temer pode relutar em entregar o controle da principal empresa de defesa do País para uma entidade estrangeira. As ações da Embraer chegaram a subir 39 por cento em São Paulo na quinta-feira devido à notícia de que a fabricante de aeronaves estava negociando uma possível venda para a Boeing, e o Wall Street Journal informou que um acordo implicaria um prêmio substancial.

"Se sair com certeza é bom, porque dá para um gringo pagar caro nisso sim. Mas a chance de sair me parece baixa, a Embraer tem área estratégica de defesa, não é trivial um estrangeiro comprá-la", disse Marcos Peixoto, diretor da unidade de gerenciamento da XP Investimentos.

As vendas de produtos relativos à defesa para o governo brasileiro representaram 9,3 por cento da receita total da Embraer no ano passado. A Embraer fornece aeronaves de ataque leve e deve começar a entregar o mais novo avião de transporte militar, o KC-390, para o ministério no próximo ano. Ela também fornece tecnologia e serviço ao governo para monitorar as fronteiras do País e operar satélites.

Temer não permitirá que o controle da Embraer mude de mãos, disseram o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o comandante da Força Aérea, Nivaldo Rossato, na quinta-feira, em uma reunião, de acordo com a Folha de São Paulo. O governo foi surpreendido pela matéria do Wall Street Journal sobre as negociações, afirmou o jornal.

"Como deixar que uma empresa dos EUA seja dona de uma importante empresa de defesa no Brasil?", disse George Ferguson, analista sênior de transporte aéreo da Bloomberg Intelligence. "Ela é a campeã nacional do espaço aéreo no Brasil. Deixar isso para os EUA seria muito confuso."

O Ministério da Defesa e o Itamaraty encaminharam os pedidos de comentários ao Ministério da Fazenda e à Presidência. O Palácio do Planalto preferiu não comentar. Embora o governo seja o principal investidor nos programas de desenvolvimento de defesa da Embraer, a empresa vende aviões de combate e outros produtos para diversos países, incluindo os EUA, que compraram seis jatos Super Tucano em outubro para enviar para o Afeganistão.

Além de sua importância para a defesa do Brasil, a Embraer tem sido muitas vezes apresentada pelo governo como um exemplo brilhante da engenhosidade e do profissionalismo do País. Essa reputação foi abalada nos últimos anos por causa dos escândalos de corrupção, mas a empresa, criada em 1969 pelo governo brasileiro e privatizada em 1994, continua sendo uma das marcas globais mais famosas do Brasil e um motivo de orgulho nacional.

"Isso é algo que eu não esperava desde que comecei a cobrir a Embraer", disse Peter Skibitski, analista da Drexel Hamilton em Atlanta. Ele escreve sobre a Embraer desde pelo menos 2012. "A noção da golden share do governo representava a ideia de que a empresa nunca seria vendida."