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Caso Lula estimula esquerda a buscar candidaturas alternativas

Simone Iglesias e Mario Sergio Lima

31/01/2018 12h58

(Bloomberg) -- Em meio à indefinição quanto à viabilidade da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste ano, partidos de esquerda e centro-esquerda estão lançando nomes alternativos, para disputar a fatia eleitoral entre 34% e 37% do petista nos cenários pesquisados pelo Datafolha e publicados nesta quarta.

Já são seis partidos dispostos a enfrentar as eleições deste ano, alguns deles históricos aliados do PT. É o caso do PCdoB, que lançou a jovem deputada gaúcha Manuela D'Ávila à sucessão presidencial. Os comunistas nunca tiveram candidato ao Palácio do Planalto na história recente do país, sempre atuando em chapas com o PT.

"Minha candidatura surgiu no cenário de indefinição da situação de Lula. Acreditamos que o impeachment encerrou um ciclo político no país. Nossa obrigação é de fazer um debate de saída da crise, da retomada do crescimento e das políticas sociais", disse Manuela à Bloomberg. Ela enfatizou que Lula tem o direito de concorrer e que todas as demais candidaturas do espectro da esquerda tem legitimidade para entrar na disputa.

No campo de esquerda, já há seis pré-candidaturas entre os partidos com representação parlamentar, o dobro do pleito de 2014. Situação de pulverização de candidaturas lembra 1989, ano da primeira eleição direta para presidente no país ao fim da ditadura militar.

"Tem um problema no curto prazo é a dependência da esquerda em relação ao Lula. Perde alguém mais competitivo e reforça a chance de fragmentação da esquerda, o que deixa o quadro mais complicado," diz o analista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências. "Na prática, a ausência do Lula rompe duas pernas do pilar da polarização entre PT e PSDB".

Terceira colocada nas últimas eleições, com 21% dos votos válidos, Marina Silva (Rede) lançou sua candidatura em dezembro passado. Outro ex-ministro do governo Lula, Ciro Gomes, também está no páreo pelo PDT, e o PSB ainda estuda um nome.

"Todos os partidos de esquerda têm conversado muito, trocado impressões, para apresentarem um programa em comum, com alguns pontos," disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. "Na campanha, no primeiro turno, não vai haver troca de agressões entre esses candidatos e todos se unem no segundo turno".

O PSB tem dois pré-candidatos: Aldo Rebelo, outro que foi ministro de Lula, e Beto Albuquerque, que na última eleição concorreu a vice na chapa de Marina Silva. O partido aguarda ainda resposta do ex-presidente do Supremo Tribunal Joaquim Barbosa para se filiar e concorrer a presidente. Barbosa foi relator do processo do mensalão, que levou à condenação de 24 pessoas, dentre elas integrantes do PT, PR, PP e PTB, e banqueiros.

"Vejo como irreversível a inelegibilidade de Lula. Há uma necessidade de começar de novo, cada um dando seus passos. Já é uma vitória falar das esquerdas e não só da esquerda", afirmou Beto Albuquerque.

Além do PT, que ainda insiste com a candidatura de Lula a despeito da possível rejeição de sua inscrição por uma condenação em segunda instância, o PSOL deve ter um candidato adotando um discurso mais radical de esquerda, caso do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos, que se filiará ao partido em março. Ainda há a possibilidade de outro ex-ministro do governo Lula, Cristovam Buarque, lançar seu nome pelo PPS.