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Meta de carros elétricos da Índia pode gerar riscos à segurança

Anindya Upadhyay

19/02/2018 12h28

(Bloomberg) -- A Índia depende de componentes importados para fabricar veículos elétricos, e isso poderia deixar o país vulnerável a violações de segurança cibernética, segundo o principal think tank de políticas do governo.

A Índia deveria fabricar a maioria das peças necessárias para sua frota de veículos elétricos, porque o equipamento importado do exterior poderia estar comprometido, disse V.K. Saraswat, membro do think tank Niti Aayog, em entrevista. Todo o software e pelo menos 55 por cento dos componentes precisam ser fabricados nacionalmente para garantir a segurança dos veículos elétricos e da rede.

"É necessário fomentar a fabricação local", disse Saraswat.

O governo do primeiro-ministro Narendra Modi afirmou no ano passado que pretende ter veículos majoritariamente elétricos até 2030, em um país onde são vendidos anualmente cerca de 3 milhões de veículos de passageiros movidos com combustível fóssil. No ano passado, na tentativa de dar impulso ao emergente mercado de veículos elétricos, a Índia realizou sua primeira licitação para a compra de 10.000 carros elétricos para uso do governo, que foi vencida pelas fabricantes de veículos indianas Tata Motors e Mahindra & Mahindra.

A Energy Efficiency Services, órgão do governo cuja tarefa é ajudar o país a reduzir as emissões e limitar as importações de combustível, anunciou no sábado que planeja realizar outra licitação para comprar 10.000 carros elétricos daqui a três meses.

'Porta dos fundos'

A China fabrica tudo para seus veículos elétricos, do chip ao conversor, mas as fabricantes de veículos indianas usam equipamentos eletrônicos importados, disse Saraswat.

As fabricantes locais de veículos elétricos importam quase 80 por cento do núcleo de um carro elétrico, incluindo a bateria e o sistema de gerenciamento de bateria, segundo Kavan Mukhtyar, diretor do escritório automotivo da PwC India. A rede de abastecimento local é incipiente porque quase não há volume, e projeta-se que a Índia terá até 10.000 veículos de quatro rodas e cerca de 100.000 de duas rodas com bateria por volta do fim de março, disse ele.

"Em vários setores em que trazemos equipamentos do exterior, houve instâncias onde uma porta dos fundos ficou aberta e a informação voltou para o fornecedor dos equipamentos, o que poderia ter consequências para a segurança nacional no futuro", disse Supratim Chakraborty, sócio da firma de serviços jurídicos Khaitan & Co.

A Central Electricity Authority, órgão de planejamento do setor elétrico da Índia, apresentou ao governo um relatório sobre segurança cibernética para veículos elétricos. Uma das sugestões é garantir que esses veículos e os postos de abastecimento não tenham o mesmo sistema de comunicação, para que exista um firewall que impeça um carro de se comunicar com a rede elétrica, disse Ravindra Kumar Verma, presidente da CEA.

"Parte das preocupações do governo indiano talvez se resuma a justificar o apoio à indústria nacional", segundo Colin McKerracher, gerente de conhecimentos avançados sobre transporte da Bloomberg New Energy Finance em Londres. Nenhum país fabrica todos os componentes usados em um carro, portanto muitos desses riscos já estão presentes, disse ele.