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Sem liderança, britânicos devem votar Brexit de novo: Editorial

Editores

20/02/2018 12h03

(Bloomberg) -- Quase dois anos depois de o Reino Unido votar pela saída da União Europeia e pouco mais de um ano antes da data agendada da saída, a nação sem rumo caminha para o desastre. É preciso encontrar uma maneira de mudar a direção. Deve haver um segundo referendo o mais rápido possível.

A convocação do primeiro referendo foi um erro gigantesco ? e não só porque as escolhas propostas aos eleitores não tinham qualquer clareza. Ninguém se deu ao trabalho de explicar o que significaria de fato o Brexit. Com base em informações nitidamente equivocadas ou ausentes, uma pequena maioria votou pela saída da UE. Anular essa decisão ? por mais errada que tenha sido ? exige outra votação popular. E desta vez, deixando claro o que se aprendeu.
Após dois anos pensando no assunto, o governo da primeira-ministra Theresa May ainda está dividido. Dificilmente ajudarão os vários discursos programados para apresentar uma visão. Negociar um Brexit tolerável talvez seja impossível, mas o fracasso em termos de definição de objetivos e de uma estratégia para atingi-los está tornando o pior Brexit possível muito provável.

Se o Reino Unido sair da UE em março de 2019 sem sequer arranjos de transição, o comércio de bens e serviços - não só com a UE, mas com boa parte do resto do mundo - cairá no caos. Extrair o Reino Unido da parceria com a Europa está se mostrando muito mais complexo e difícil do que imaginavam os defensores do Brexit. E enquanto ficam claros os gigantescos custos do divórcio abrupto já no curto prazo, as metas de longo prazo que deveriam justificar a decisão ficam ainda mais obscuras.

Um aspecto pequeno, mas especialmente sensível, da negociação é o dilema irlandês. May prometeu não impor uma fronteira rígida entre a Irlanda (que permanecerá na UE) e a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido). O que ela não explicou é como tal fronteira ? que pode perturbar a paz que a ilha aproveita há duas décadas ? pode ser evitada. Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, fez o primeiro discurso visando esclarecer a posição do governo sobre a vida após o Brexit - e sequer mencionou a Irlanda do Norte.

É improvável que May possa reverter suas posições, propor um segundo referendo e sobreviver como líder do Partido Conservador. Mas com tanto em jogo, ela deveria reconhecer que seu destino é um detalhe. A oposição, representada pelo Partido Trabalhista, também dividido em relação ao Brexit, já declarou que a primeira votação precisa valer. Essa postura também tem de mudar. É preciso lembrar que os defensores da permanência do Reino Unido na UE em ambos os partidos constituem maioria folgada no Parlamento - embora insistam que o último referendo precisa ser honrado. É uma questão extremamente importante e autoridades dos dois partidos precisam se unir e exigir outra votação.

É garantido que um segundo referendo reverteria a escolha da nação? Claro que não. As opiniões da população estão flutuando, mas não mudaram de forma decisiva. O Reino Unido segue dividido ao meio. Isso não surpreende porque pouquíssimos políticos estão pedindo abertamente que o país reconsidere sua posição. Eles precisam cumprir seu papel e defender o que acreditam ser o melhor para seus eleitores.

Talvez seja necessário outro elemento para fazer a diferença: o envolvimento da União Europeia. Até agora, o bloco enfatizou as dificuldades que o Reino Unido está criando para si mesmo e deixou claro que a Europa não vai colaborar para que o Brexit doa menos. É razoável, mas o bloco agora precisa debater com uma atitude mais positiva, pedindo que o Reino Unido mude de ideia. O bloco deveria declarar que, se o Reino Unido agir a tempo, a UE tornaria a reversão do Brexit o mais simples possível.

Tirar o Reino Unido dessa confusão que criou para si não será fácil. Um segundo referendo certamente desencadearia protestos furiosos e possivelmente uma crise política, novas eleições e todos os perigos e incertezas que as acompanham. Contudo, a alternativa -- o Brexit caótico para o qual um Reino Unido sem liderança hoje caminha - seria ainda pior.