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Confiança do mercado com eleição e economia ganha corpo

Josue Leonel

22/02/2018 16h03

(Bloomberg) -- A expectativa de aceleração do crescimento da economia, combinada à aposta de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficará fora da eleição, leva uma parte do mercado a ficar mais confiante na possibilidade de uma vitória de um candidato reformista em 2018. A intervenção federal no Rio de Janeiro também entra na conta e a visão mais otimista sobre o quadro eleitoral ajuda o investidor a assimilar o fracasso da reforma da Previdência. As medidas anunciadas pelo governo, ainda que requentadas, são vistas como uma agenda positiva.

A tendência de melhora da economia deve ficar mais clara justamente quando as candidaturas a presidente estarão sendo definidas, entre julho e agosto, diz William Landers, diretor dos fundos da América Latina da BlackRock. Em meio a um ambiente que também é de maior crescimento no exterior, o país deve chegar ao meio do ano com sinais mais claros de expansão do PIB, inflação baixa e um juro "em nível que o Brasil nunca teve". Neste ambiente, aumentariam as chances de um candidato centrista vencer as eleições.

Para Landers, a incerteza eleitoral ainda é grande, mas a possibilidade de vitória da esquerda diminui com Lula fora da disputa. Será muito difícil um candidato esquerdista ter sucesso depois de a experiência do governo Dilma Rousseff não ter dado certo, diz o profissional da BlackRock. Ele vê a bolsa brasileira ainda barata, mesmo após os recordes recentes, considerando-se a concretização de um cenário mais benigno na economia que tenha impacto na eleição.

As chances também podem ficar menores de a eleição cair no colo do deputado Jair Bolsonaro, que tem liderado as pesquisas no cenário sem Lula, diz Patrícia Pereira, gerente de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos. Além do crescimento da economia ampliar a competitividade de um nome de centro, a intervenção do governo federal no Rio de Janeiro poderia fortalecer a posição do governo do presidente Michel Temer na questão da segurança, que tem sido a principal bandeira do pré-candidato mais à direita no espectro político.

O fato de terem voltado as especulações sobre possível candidatura de Temer seria um sinal do impacto político da intervenção no Rio. Ainda que esta hipótese não se confirme, Patrícia Pereira vê o foco no problema da segurança como um trunfo que será útil a quem quer que seja o candidato apoiado pelo governo.

A maior confiança na eleição ajuda a aplacar no mercado o sentimento de perda com o abandono da reforma da Previdência. "O mercado está trocando a reforma pela eleição", diz a profissional da Mongeral, ao considerar que os investidores passam a confiar em um novo governo que aprovará mudanças na Previdência em 2019.

O cenário externo, com crescimento global combinado a juros ainda baixos, também favorece a economia brasileira, diz Marijke Zewuster, chefe de pesquisas de mercados emergentes e commodities no Banco ABN em Amsterdam. "O ambiente doméstico também está parecendo melhor, ajudado por uma queda mais forte do que a esperada na inflação, juntamente com uma queda ainda mais acentuada das taxas de juros", diz Marijke, embora ainda fazendo alerta sobre a incerteza política e fraca posição fiscal do país.