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Petroleiras buscam reputação melhor frente a mudanças climáticas

Kelly Gilblom

17/04/2018 12h31

(Bloomberg) -- As maiores petroleiras do mundo, por muito tempo rotuladas como vilãs das mudanças climáticas, estão tentando se reinventar como pioneiras ambientais.

"Não vamos ficar parados e dizer 'vamos ver o que a sociedade faz e seguir o exemplo'", disse o CEO da Royal Dutch Shell, Ben van Beurden. "Estamos mais do que preparados para ser assertivos, para nos apresentarmos e dizer: 'Isto é o que é preciso fazer'."

Irritado com uma resolução dos acionistas que forçaria a maior petroleira da Europa a criar metas específicas para as emissões, o CEO adotou a medida incomum de conversar com cinco jornalistas na segunda-feira a respeito da visão da Shell para um mundo descarbonizado. A Shell não está apenas implementando medidas muito mais fortes para gerenciar a transição energética, segundo Van Beurden, mas pode também levar o resto do mundo consigo.

Provar a ativistas e acionistas que as empresas se importam com o clima é uma preocupação que está ganhando importância entre as grandes petroleiras. Horas depois de Van Beurden entrar em contato, a BP recebeu dezenas de analistas, jornalistas, políticos e tecnocratas em sua sede para explicar o que estava fazendo a respeito das emissões.

A BP destacou toda a equipe executiva e cinco membros discursaram a respeito do que estão fazendo especificamente em relação à mudança climática. Na plateia estava o ex-CEO John Browne, pioneiro da malsucedida campanha de reposicionamento de marca "Além do Petróleo".

Metas elogiadas

Em busca de uma afirmação maior, a BP trouxe um cientista do clima, Stephen Pacala, da Universidade de Princeton. Ele elogiou as metas da BP para as emissões e disse que as empresas de combustíveis fósseis seriam parte importante do futuro. O ambientalista Mark Tercek, CEO da The Nature Conservancy, acrescentou seu elogio via Skype.

Nem todos se mostraram convencidos. Ao The Guardian, horas antes do evento da BP, um ex-assessor da empresa e diretor de um think tank ambiental chamou os objetivos da empresa de "campanha rasa de Relações Públicas" e "maquiagem verde".

Ainda assim, as apresentações mostram que a indústria do petróleo está longe de ser um grupo de negacionistas climáticos.

Um teste importante da efetividade da nova decisão das grandes petroleiras será a luta pelo preço do carbono. Quando indagado por uma autoridade sênior, no ano passado, por que a Shell não defendia preços maiores para o carbono, Van Beurden se mostrou surpreso. Havia décadas que a empresa vinha fazendo isso.

"A avaliação real, honesta e crua é que não tivemos muito êxito" na divulgação da mensagem a respeito do carbono, disse ele a jornalistas, na segunda-feira. "Aparentemente, a mensagem não chegou a eles."