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'Vidro inteligente' em aeroportos incentiva passageiro a gastar

"Vidro inteligente" no aeroporto internacional de Dallas-Fort Worth, nos EUA - Divulgação
'Vidro inteligente' no aeroporto internacional de Dallas-Fort Worth, nos EUA Imagem: Divulgação

Justin Bachman

17/04/2018 13h57

(Bloomberg) -- Há muitas descrições de um futuro em que dominaremos a arte de manipular a opacidade do vidro. Até na vida real os óculos escuros podem se adaptar à intensidade da luz do sol. Então, por que, poderíamos perguntar, não podemos usar isso também em casa ou no trabalho?

A espera pode acabar logo. O mundo polarizado do futuro está chegando e os aeroportos -- minicidades de aço, concreto e muito, muito vidro -- estão interessados. Em um teste no outono (Hemisfério Norte), o Aeroporto Internacional de Dallas-Fort Worth (DFW) colocou em um dos seus portões de embarque um novo tipo de "vidro inteligente", que ajusta a exposição à luz solar. A intenção era proteger os viajantes do excesso de calor -- mas o exercício também trouxe um benefício mais lucrativo.

O teste foi pensado para determinar se o produto, chamado View Dynamic Glass, podia aumentar o bem-estar dos passageiros em uma pequena área do prédio do terminal -- especificamente a sala de espera do portão A28 e uma lanchonete voltada para o leste, torrada regularmente pelo sol do Texas.

Ora, um bar mais fresco e com mais sombra estimula a beber uma ou duas rodadas extras. As vendas de álcool cresceram 80 por cento em outubro em relação ao mesmo período de 2016 e a única diferença foi a instalação do vidro eletrocromático. O álcool representou 17 por cento da receita da lanchonete em outubro de 2017, em comparação com 9 por cento no mês anterior e com 8 por cento em outubro de 2016.

Para o aeroporto, o resultado foi claro: tirando o calor e a luz de um bar envidraçado as pessoas ficarão mais tempo no lugar e gastarão mais.

Passageiros tranquilos

Durante anos, os executivos de aeroportos analisaram a conexão entre as impressões do passageiro e seus gastos e perceberam que o elo fundamental é o "tempo de permanência" no terminal: as pessoas tendem a passar rapidamente pelo assustador aeroporto LaGuardia de Nova York e a ficar muito tempo em aeroportos aclamados como os de Seul, Singapura e Munique. Os passageiros que estão sossegados depois de passarem os controles de segurança tendem a gastar mais dinheiro enquanto aguardam o voo. Sendo o quarto aeroporto mais ativo dos EUA, o DFW poderia aproveitar essa dinâmica, concluíram seus funcionários.

O vidro usado em Dallas é fabricado pela View, uma empresa de dez anos do Vale do Silício cujo alvo são escritórios comerciais, hospitais, instituições de ensino superior, aeroportos e outros locais onde a satisfação do cliente é uma prioridade. A gigante francesa dos materiais Compagnie de Saint-Gobain tem um produto eletrocromático similar chamado SageGlass.

A tecnologia visa reduzir a luz ativando o sombreamento interno e, por extensão, reduzindo a temperatura ambiente. O funcionamento é similar ao das janelas de um Boeing 787 Dreamliner; um botão para diminuir ou aumentar a opacidade.

"Passamos 90 por cento do nosso tempo em lugares fechados", disse Rahul Bammi, diretor de negócios da View. "O que realmente importa são a luz, a qualidade do ar, a temperatura e o som. Conseguimos um impacto positivo em pelo menos três dessas coisas."