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Discriminação de gênero reina em empresas de tecnologia da China

Bruce Einhorn e Lulu Yilun Chen

23/04/2018 12h08

(Bloomberg) -- A discriminação no ambiente de trabalho na China geralmente começa nos anúncios de emprego.

Os sites de recrutamento de funcionários rotineiramente exibem anúncios de famosos empregadores do setor de tecnologia, como Alibaba Group Holding, Baidu e Tencent Holdings, para vagas abertas exclusivamente para homens, de acordo com um relatório divulgado pela Human Rights Watch nesta segunda-feira.

E o grupo com sede em Nova York afirmou que a discriminação contra as mulheres no emprego também assume outras formas: as empresas chinesas costumam fazer exigências quanto à altura, ao peso, à voz ou à aparência que não têm nada a ver com as qualificações das candidatas para o trabalho. As três grandes empresas de internet se gabam de ter "garotas bonitas" ou "deusas", e esses anúncios contribuem para a discriminação de gênero que predomina no ambiente de trabalho, afirmou a Human Rights Watch.

"A objetificação sexual das mulheres - tratar mulheres como um mero objeto do desejo sexual - é predominante nos anúncios de emprego na China", segundo o relatório.

A Human Rights Watch analisou mais de 36.000 anúncios, a maioria deles publicada desde 2013 em sites corporativos e governamentais e em plataformas de rede social. Os pesquisadores buscaram termos relacionados a preferências de gênero, como "apenas para homens" e "adequado para mulheres".

Uma pesquisa no site da Alibaba, em janeiro, encontrou anúncios "apenas para homens" ou "preferencialmente para homens" relativos a vagas como especialista sênior em assuntos governamentais e gerente de crowdsourcing, de acordo com o relatório. A Human Rights Watch informou que a conta de recrutamento da gigante do comércio eletrônico publicou em uma rede social fotos de jovens funcionárias do sexo feminino e as descreveu como "benefícios noturnos".

'Objetificação escancarada'

Um anúncio da Tencent exibiu um funcionário dizendo que a presença de mulheres bonitas era uma das razões pelas quais ele se juntou à empresa, e em um anúncio da Baidu um funcionário disse que ter colegas mulheres atraentes era uma das razões pelas quais ele estava contente no trabalho, segundo a Human Rights Watch.

"Simplesmente existe uma objetificação escancarada dessas mulheres", disse o diretor executivo Kenneth Roth em uma entrevista coletiva em Hong Kong. "Isso cria um ambiente de trabalho hostil."

Em uma declaração enviada por e-mail, a Tencent afirmou que investigou os incidentes e que fará mudanças imediatas. "Lamentamos que tenham ocorrido e tomaremos medidas rápidas para garantir que isso não aconteça novamente", afirmou. "A Tencent valoriza diversas origens e recruta funcionários com base no talento e na capacidade."

A Baidu afirmou que lamenta "profundamente" o que descreveu como "casos isolados" de anúncios de emprego que não foram condizentes com seus valores e que a empresa havia removido esses anúncios antes da publicação do relatório. A Baidu informou que as mulheres representam 45 por cento de seus funcionários e que os cargos intermediários e seniores refletem uma proporção similar.

A Alibaba afirmou que analisa regularmente os anúncios de recrutamento e tem "diretrizes bem definidas" sobre a igualdade de oportunidades, independentemente do gênero. A companhia informou que 47 por cento de seus funcionários são mulheres e que as mulheres ocupam um terço dos cargos de gerência.

No ambiente de trabalho, as mulheres chinesas enfrentam uma pressão intensa com base em sua aparência, disse Rui Ma, investidora anjo de São Francisco. O termo "yanzhi", ou métrica de aparência física, faz parte da linguagem cotidiana das empresas, disse ela.

--Com a colaboração de Sheridan Prasso