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Riscos mais equilibrados para inflação ainda não preocupam

Vinícius Andrade

24/04/2018 12h24

(Bloomberg) -- A mudança recente de patamar da taxa de câmbio e os ganhos dos preços de petróleo no quadro internacional tornaram o balanço de riscos para a inflação menos assimétrico, mas ainda estão distantes de ameaçar o quadro de inflação comportada. A dinâmica favorável dos indicadores de alta frequência ao longo dos primeiros meses do ano - que levou os agentes do mercado a enxergar o número fechado do ano mais perto de 3% do que de 4% -, o comportamento benigno dos núcleos, a ancoragem das expectativas e a capacidade ociosa elevada da economia brasileira seguem apontando um cenário benigno.

Do último encontro do Copom para cá, o dólar passou de R$ 3,27 para R$ 3,47, enquanto o barril de petróleo encostou em US$ 69 em Nova York. "O balanço certamente está mais equilibrado agora, mas sem muita preocupação, especialmente devido ao fato de que as expectativas continuam muito bem ancoradas em 4% até 2020", diz Gustavo Rangel, economista do ING. "É um nível excelente e confirma o alto nível de credibilidade das autoridades do Banco Central, a despeito das incertezas políticas."

O câmbio oferece algum viés altista para inflação, mas os níveis atuais da moeda ainda não mudam o cenário de forma relevante, diz João Pedro Ribeiro, estrategista da Nomura. "Continuamos vendo inflação a 3,40% no final do ano, um nível bastante baixo e muito confortavelmente abaixo da meta", disse Ribeiro, em entrevista por telefone.

Os fatores que conspiram para a manutenção de baixas taxas de inflação ainda estão bastante presentes e devem prevalecer, segundo Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. Para Oliveira, o hiato do produto em terreno negativo e a ancoragem das expectativas ofuscam a alta do preço do petróleo e até mesmo um eventual movimento adicional de depreciação do câmbio. O Banco Fibra projeta IPCA a 3,5% no fim de 2018.

Patamar atual ainda confortável

"Câmbio a R$ 3,50 não atrapalha a inflação", diz José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. "Se vai para R$ 3,60 e fica, aí você carrega alguma coisa disso para a inflação. Agora, não sei se passa de R$ 3,50". A mediana das estimativas compiladas pela Bloomberg para a taxa de câmbio no fim de 2018 atualmente está em R$ 3,30.

"Há aceleração de preços administrados, mas o resto cai e isso mais do que compensa. Não tenho dúvida de que inflação deste ano será menor do que 3,5%, com o mercado revendo atividade para baixo. E, cada vez que há uma surpresa dessa como a do IPCA-15, você joga um pouco disso para o ano que vem", disse Gonçalves. Após o IPCA-15 de abril acelerar menos do que o esperado na última sexta-feira, o Banco Fator revisou sua projeção para inflação em 2018 para 3,40%.

Risco eleitoral

Para Rangel, do ING, até mesmo um movimento adicional de depreciação do câmbio dificilmente contaminaria as expectativas inflacionárias. "Acho que o mercado interpretaria um aumento do dólar como possivelmente temporário, que se reverteria após a eleição", diz o economista.

Ainda assim, um dólar mais fortalecido mantém como aposta majoritária para a reunião de junho do Copom a estabilidade do juro. "Ainda estamos longe de estarmos preocupados com a inflação no Brasil, mas choques de oferta (câmbio, alimentos e preços de commodities) podem puxar a inflação para cima mais rápido do que o esperado e, em um ambiente como esse, talvez não faça muito sentido cortar a Selic além do corte de 0,25 ponto percentual esperado para a próxima reunião do Copom", diz Alberto Ramos, economista sênior do Goldman Sachs.

Ramos não vê muito espaço para o BC ser surpreendido para baixo em suas projeções de inflação. "Provavelmente não há muito - se é que há."