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Europa quer exército de robôs para enfrentar EUA e China em IA

Marc Champion

26/04/2018 12h31

(Bloomberg) -- No Bristol Robotics Laboratory, no sudoeste da Inglaterra, dezenas de máquinas de metal minúsculas foram posicionadas para dançar sobre uma superfície branca e brilhante em experimentos "aglomerantes" para monitorar como elas se organizam e funcionam juntas.

A cena nesta instalação financiada pela União Europeia, ocorrida nesta semana, reflete o que o continente está tentando fazer agora para competir contra os EUA e a China em inteligência artificial (IA).

A Comissão Europeia anunciou na quarta-feira que quer criar uma rede de centenas de Centros de Inovação Digital como o de Bristol. O objetivo é ajudar empresas e cientistas da Europa a trabalharem em conjunto para impulsionar a pesquisa e a adoção de novas tecnologias entre milhares de pequenas e médias empresas que constituem a espinha dorsal da economia.

"A ideia é que todos esses centros se conectem e se comuniquem, para maximizar o impacto das tecnologias e dos conhecimentos que desenvolvem", disse Farid Dailami, professor associado que administra o centro de protótipos em Bristol, que conecta pesquisadores e financiamento a empresas que precisam de robótica.

A Europa já tem duas das maiores empresas de robótica do mundo, a suíça ABB e a alemã Kuka. No entanto, o continente não tem nenhuma grande plataforma de internet, na escala do Google ou da chinesa Tencent Holdings, para absorver os dados que fundamentam muitos dos avanços tecnológicos atuais em IA.

Para piorar, gigantes da tecnologia dos EUA e da China têm muito dinheiro, o que lhes permite não apenas financiar pesquisas caras, mas também conquistar startups europeias de sucesso. A Kuka foi comprada por uma empresa chinesa e o Google adquiriu a estrela em ascensão do Reino Unido em IA, a DeepMind.

Mercado fragmentado

Um problema é que, apesar dos esforços para construir um mercado digital comum, a população da UE, de 500 milhões de habitantes, está dividida entre 28 países. Universidades, financiamentos e outras redes que sustentam a pesquisa estão desarticulados. A China e suas empresas, por outro lado, podem explorar os dados de 1,4 bilhão de potenciais clientes em um mercado. O Facebook, sozinho, tem mais de 2 bilhões de usuários em todo o mundo.

"A competição internacional acirrada exige que a UE tome medidas coordenadas para estar na vanguarda do desenvolvimento da IA", disse Andrus Ansip, vice-presidente da Comissão Europeia para o mercado digital comum, no comunicado que anuncia a iniciativa da UE.

Esta situação deve se complicar depois que o Reino Unido sair da UE no ano que vem. Dailami afirmou que recebeu instruções de continuar trabalhando normalmente, mas não está claro se o financiamento da UE poderá incluir laboratórios do Reino Unido em sua nova rede.

Das mais de 230 novas startups de todo o mundo avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais, conhecidas como unicórnios -- os Googles e Tencents do futuro --, a UE tem apenas 26 e metade delas estão no Reino Unido. Por sua vez, a China tem 65 unicórnios e os EUA, 115.

A solução da Comissão é injetar mais recursos para estimular 20 bilhões de euros de fundos de pesquisa extras para a IA em todo o bloco; mais formação profissional; direitos mais baratos para as empresas reutilizarem big data coletado pelo setor público da Europa, que é altamente desenvolvido, através dos serviços de saúde, transporte e outros; e uma nova rede de centros de pesquisa e extensão empresarial, inspirada na atividade de Dailami em Bristol.