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Política atrapalha avanço de dois pesos no mercado de câmbio

Ben Bartenstein e Charles Stein

30/04/2018 11h15

(Bloomberg) -- O ano começou maravilhosamente bem para o peso mexicano e o peso colombiano. As duas moedas se valorizaram mais de 5 por cento em janeiro. Excluindo a coroa norueguesa, nada ia melhor no mercado de câmbio mundial do que os dois pesos.

Os motivos para a apreciação eram distintos. A moeda colombiana avançava por causa da alta do petróleo e a do México devido ao otimismo em torno das negociações do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). Porém, a mensagem implícita por trás da valorização dos dois pesos era a mesma: os investidores não estavam preocupados com as eleições presidenciais nos dois países.

Essa confiança agora parece evaporar, principalmente no caso do México. O peso mexicano desabou 4,9 por cento em apenas cinco dias em abril, em reação à liderança consistente de 20 pontos percentuais do candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador (conhecido pela sigla AMLO) nas intenções de voto para a eleição de 1º de julho. A moeda mexicana é uma das de pior desempenho nos mercados emergentes desde o fim de março, com perda de 2,9 por cento.

"A probabilidade de vitória de AMLO está aumentando e os discursos dele continuam radicais", disse Shamaila Khan, diretora para dívidas de mercados emergentes da AllianceBernstein, que recomenda cautela em relação ao peso e aos títulos mexicanos. "Não acho que o risco eleitoral esteja totalmente precificado pelo mercado."

Mesmo na Colômbia, onde os investidores estão mais confiantes na derrota do ex-guerrilheiro Gustavo Petro na eleição de 27 de maio, a valorização do câmbio perdeu fôlego. Pesquisas de intenção de voto mostram que a liderança de Iván Duque ? aliado do ex-presidente Álvaro Uribe, tão elogiado pelo mercado ? está diminuindo.

López Obrador é o preferido de 47 por cento dos potenciais eleitores, muito à frente do segundo colocado, Ricardo Anaya, com 27 por cento, ou do terceiro, o ex-ministro da Fazenda José Antonio Meade, de acordo com o sistema de acompanhamento Poll Tracker, da Bloomberg. Na Colômbia, Petro estava 10 pontos percentuais atrás de Duque na última sondagem feita pela Invamer, bem menos do que a vantagem de 19 pontos que tinha cinco semanas antes.

Os investidores só agora estão se dando conta da possibilidade de López Obrador vencer e formar uma coalizão capaz de implementar suas ideias mais radicais, disse Khan. Isso pode prejudicar a Petróleos Mexicanos (Pemex), que se beneficiou de uma recente reformulação da legislação que acabou com o monopólio estatal da produção petrolífera. Também há temores de que as promessas dele de aumentar gastos sociais possam levar a uma explosão do déficit orçamentário.

López Obrador provavelmente adotará uma plataforma mais moderada após a vitória, mas os ativos mexicanos podem sofrer choques no curto prazo, na opinião de Jeff Grills, gestor de recursos da Gramercy Funds, que supervisiona aproximadamente US$ 6 bilhões em ativos de países emergentes. Esse pessimismo pode criar uma oportunidade de compra para investidores de longo prazo, de modo parecido com a queda temporária dos mercados globais após Donald Trump vencer a corrida pela Casa Branca, em novembro de 2016. Ele está mais otimista em relação à Colômbia.

A moeda brasileira e o panorama eleitoral também preocupam os investidores globais. Após uma breve disparada em janeiro, o real acumula queda de 7,8 por cento, em parte devido ao temor de que o próximo governo não seja tão comprometido com o saneamento das contas públicas.

O peso colombiano ainda é a moeda de melhor desempenho nos países emergentes em 2018, com alta de 6,5 por cento, apesar do recuo de 0,3 por cento desde o fim de março.

A eleição na Colômbia "não tira meu sono", disse Grills, que tem alocação concentrada em ativos colombianos e neutra no peso mexicano. Segundo ele, a proximidade da Colômbia com o desastre econômico e social na Venezuela faz com que os eleitores rejeitem políticos radicais.