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Líder feminina mais jovem abre caminho para mulheres grávidas

Matthew Brockett e Tracy Withers

15/06/2018 16h25

(Bloomberg) -- Quando der à luz seu primeiro filho, nos próximos dias, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, mostrará ao mundo que as mulheres não precisam sacrificar suas carreiras para serem mães.

A chefe de Estado de 37 anos não fica apenas no simbolismo. Nos bastidores, o governo dela trabalha em planos para mudar o tratamento dado às mulheres na sociedade, incluindo a ambiciosa meta de eliminar a disparidade salarial entre gêneros.

"Fomos o primeiro país onde as mulheres lutaram e conquistaram o direito ao voto, portanto não vejo motivos para não continuarmos sendo líderes", disse a ministra das Mulheres, Julie Anne Genter, em entrevista. "O novo governo demonstrou um compromisso real de priorizar a igualdade de gênero porque esta é a coisa certa a fazer."

Com um bebê esperado para 17 de junho, Ardern se tornará a segunda líder mundial a dar à luz no cargo, depois da ex-primeira ministra do Paquistão Benazir Bhutto. Como o parceiro de Ardern, o apresentador de programas de TV sobre pesca Clarke Gayford, pode ficar em casa para cuidar do filho, ela pretende voltar ao trabalho depois de seis semanas.

Trata-se de um tempo muito menor do que o usado pela maioria das mulheres na Nova Zelândia, onde apenas 61 por cento voltam ao trabalho em um período de 12 meses após o parto. Além disso, as mulheres, em média, sofrem um corte salarial de 4,4 por cento quando se tornam mães e os homens veem poucas mudanças em seus salários, segundo estudo publicado pelo instituto de pesquisas de políticas públicas e econômicas Motu no mês passado.

'Eticamente indefensável'

"É eticamente indefensável que se pague salários menores às pessoas por discriminação de gênero", disse Genter, 38, que também está grávida e espera o primeiro filho para agosto. "A flexibilização das condições de trabalho é fundamental para eliminar barreiras para as mulheres, especialmente para as que têm responsabilidades familiares."

Apesar de a diferença salarial entre gêneros na Nova Zelândia ter diminuído dos 16,2 por cento de 1998 para 9,4 por cento, o progresso para redução dessa desigualdade estagnou na última década. O país ficou em nono lugar entre 144 nações no Relatório Global de Diferenças de Gênero do Fórum Econômico Mundial para 2017, que mede o progresso rumo à paridade de gênero, mas estava em quinto lugar em 2009.

O Ministério das Mulheres de Genter desenvolveu um roteiro para reduzir a diferença salarial no setor público até o fim de 2021. O objetivo não é apenas eliminar a desigualdade entre empregos semelhantes, mas também colocar mais mulheres nos cargos mais bem remunerados. Apesar de o plano ainda não ter sido publicado, entre as medidas prováveis indicadas por ela estão:

- Flexibilizar as jornadas de pais e mães que trabalham;

- Incluir os trabalhadores que estão de licença parental nos reajustes salariais para que não sejam deixados para trás;

- Abordar a questão do preconceito inconsciente por meio de treinamento;

- Selecionar mais mulheres para cargos superiores;

- Reduzir a desigualdade entre os salários iniciais em cargos similares no prazo de um ano.

Repórteres da matéria original: Matthew Brockett em Wellington, mbrockett1@bloomberg.net;Tracy Withers em Wellington, twithers@bloomberg.net