Azul quer crescer em carga aérea com estradas ruins e perigosas
(Bloomberg) -- A Azul SA, a mais nova entre as empresas aéreas brasileiras, acredita ser capaz de resolver um dos problemas mais antigos do País.
A empresa fundada pelo empreendedor David Neeleman quer ajudar a resolver os gargalos logísticos do Brasil, que representam um grande peso para a maior economia da América Latina. Estradas esburacadas, roubos de carga e uma malha ferroviária pequena e fragmentada em um país de proporções continentais são apenas algumas das razões pelas quais a infraestrutura do Brasil é sempre tão mal classificada pelo Banco Mundial.
Atualmente, apenas 3 a 4 por cento da receita anual da Azul vem do setor de cargas, mas as vendas estão crescendo rapidamente. A empresa teve um aumento de 61 por cento nas receitas geradas com remessas transportadas nos compartimentos de carga de aviões de passageiros no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. E o resultado saiu antes da greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil por 10 dias no mês passado.
A Azul planeja começar a operar seus dois primeiros aviões de carga Boeing 737-400 até o fim do ano, segundo o CEO John Rodgerson. A empresa planeja também expandir uma rede de 200 lojas de remessa de cargas e aguarda aprovação regulatória para um acordo para fazer remessas aéreas para os Correios, o primeiro do tipo, disse ele.
"O Brasil tem um enorme problema de logística", disse Rodgerson, em entrevista, na sede da empresa, na grande São Paulo. "Muita gente pensa: 'OK, vou transportar mercadorias de caminhão porque sai mais barato'. Será? Você precisa de seguro e não tem a certeza de que o produto realmente chegará. Os aeroportos são os lugares mais seguros do mundo."
Ação em dificuldades
Quanto a seu principal negócio, de passageiros, a Azul estima que seus assentos disponíveis por quilômetro, um indicador de capacidade do setor, crescerão 17 por cento neste ano, quando a empresa transportará 25 milhões de pessoas e contratará 1.000 funcionários, um aumento de quase 10 por cento da sua força de trabalho, disse Rodgerson.
As ações da empresa aérea têm enfrentado problemas nos últimos meses e perderam mais de 40 por cento desde a alta recorde de abril. No fechamento do pregão de sexta-feira, a R$ 22,83, as ações eram negociadas perto do preço da oferta pública inicial de abril de 2017. O aumento dos preços do petróleo e o dólar mais forte são os grandes culpados e levaram a Azul a acelerar um plano de renovação de aeronaves para ampliar a eficiência de combustível de sua frota.
Ao mesmo tempo, os dois novos aviões de carga da Azul - e, em especial, o acordo com os Correios -- colocarão a empresa em posição privilegiada para aproveitar o momento em que a maior varejista on-line do mundo se expande no Brasil. Após anos vendendo apenas livros no País, a Amazon.com lançou um marketplace de eletrônicos e eletrodomésticos no ano passado.
Cada vez mais empresas estão decidindo transportar produtos de maior valor por avião em vez de se arriscarem e enviarem itens por caminhão por centenas ou até milhares de quilômetros de rodovias esburacadas e propensas a roubos, disse o CEO. A greve dos caminhoneiros contra o aumento dos preços do diesel, no mês passado, ilustrou a necessidade de métodos alternativos de transporte.
"A situação atual é mais desafiadora", disse Rodgerson, "mas isso não muda o que queremos fazer".
Repórteres da matéria original: Christiana Sciaudone em N York, csciaudone@bloomberg.net;Fabiola Moura em São Paulo, fdemoura@bloomberg.net
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