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Aéreas dos EUA podem perder passageiros por causa de Taiwan

Anurag Kotoky

26/06/2018 12h33

(Bloomberg) -- Faltando um mês para que as principais companhias aéreas do mundo cumpram a ordem de Pequim de reconhecer Taiwan como parte da China, as aéreas dos EUA correm o risco de transportar menos passageiros do continente por manter uma postura desafiadora.

A Japan Airlines, a ANA Holdings e a australiana Qantas Airways já mudaram o modo como descrevem Taiwan em seus sites, mas a Delta Air Lines e a American Airlines Group estão entre as poucas que ainda não o fizeram, chamando a ilha de região ou país. Elas podem enfrentar medidas como atrasos no controle do tráfego aéreo, inspeções de rampa, atrasos na imigração e verificações de segurança, segundo Robert Mann, diretor da consultoria de aviação R.W. Mann & Co. em Nova York.

"O regime comercial e o discurso atuais estão ficando feios e poderiam ficar ainda mais feios", disse Mann. "Além de uma proibição definitiva, os chineses poderiam dificultar, em termos comerciais e operacionais, que as empresas aéreas dos EUA aterrissem e decolem em aeroportos chineses."

A Delta e a American Airlines, que têm até 25 de julho para aderir à questão de Taiwan, afirmam que estão consultando o governo dos EUA, embora a Casa Branca tenha desconsiderado o pedido, que definiu como uma "bobagem orwelliana". Um representante da United Continental Holdings, a companhia dos EUA com mais serviços para a China continental, preferiu não comentar. A briga diplomática ocorre em meio à intensificação da guerra comercial retaliatória entre Donald Trump e Xi Jinping.

A principal ameaça a longo prazo é ao estabelecimento de um tratado de aviação de céus abertos (open skies) entre China e EUA, uma pré-condição para alianças de operação conjunta de voos (code-share) que podem ser aprovadas por órgãos antitruste, disse Mann.

O manual da China contém mais opções para provocar incômodos, disse Corrine Png, CEO e fundadora da Crucial Perspective, empresa de pesquisa com sede em Cingapura e foco no transporte.

"As companhias aéreas dos EUA têm uma exposição muito maior às rotas da China e, portanto, têm mais a perder contrariando a China", disse ela.

O governo da China poderia instigar passageiros do continente a boicotar as companhias aéreas americanas e também poderia impor restrições ao turismo, aprovando menos pacotes turísticos - uma tática que se revelou eficaz contra a Coreia do Sul quando o país decidiu implementar um escudo antimísseis em seu solo no ano passado, apesar das reclamações da China, disse Png.

A China, que afirma que suas relações com os EUA dependem da aceitação norte-americana da "China única", ficou mais irritada recentemente com os crescentes vínculos entre o governo Trump e o governo da ilha, liderado pela presidente Tsai Ing-wen, que defende a independência. Em março, Xi alertou que os esforços para ampliar as divisões com Taiwan seriam "punidos pela história".

Em abril, a Administração de Aviação Civil da China enviou uma carta a mais de 40 companhias aéreas estrangeiras para dizer que elas não deveriam colocar a China, Hong Kong e Taiwan em pé de igualdade e que deveriam se referir a "Taiwan da China" ou à "região chinesa Taiwan". Os mapas devem exibir os territórios na mesma cor que a China continental, e os sites não podem colocar Taiwan em outras categorias, como o Sudeste Asiático, afirmou. Depois que algumas companhias pediram mais tempo, o prazo foi estendido para 25 de julho.

A assessora de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse em maio que isso fazia parte de uma tendência crescente do Partido Comunista Chinês de impor suas opiniões políticas aos cidadãos americanos e às empresas privadas, o que "encontrará resistência".

"Estamos analisando a solicitação da Administração de Aviação Civil da China e permaneceremos em estreito contato com o governo dos EUA durante todo esse processo", afirmou a Delta em um comunicado enviado por e-mail. A American Airlines também está consultando o governo dos EUA, disse a porta-voz Shannon Gilson.

--Com a colaboração de Justin Bachman, Eliza Haverstock, Kyunghee Park, Dong Lyu, Adela Lin, Lena Lee, Iain Marlow e Mary Schlangenstein.