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Turbulências para Gol, Azul e Latam exigem coragem do investidor

Vinícius Andrade e Fabiola Moura

29/06/2018 15h01

(Bloomberg) -- Os combustíveis e o dólar subiram ao mesmo tempo e isso significa céus turbulentos para as companhias aéreas brasileiras.

A Gol Linhas Aéreas Inteligentes está liderando perdas no Ibovespa no acumulado do mês, com queda de 21% até o momento. A empresa também está caminhando para a maior queda trimestral desde sua oferta pública inicial em 2004. Gol e Azul caíram 51% e 44%, respectivamente, nos últimos três meses e a LATAM Airlines caiu 29 por cento.

Os preços do petróleo subiram 14 por cento em Nova York no período - o quarto avanço trimestral consecutivo - e o Bloomberg Dollar Spot subiu 6 por cento com aumento dos riscos para a oferta global de petróleo. Ao mesmo tempo, o real perdeu 14 por cento de seu valor em relação ao dólar. A combinação é prejudicial para as aéreas locais, que obtêm a maior parte de sua receita em moeda local, enquanto mais da metade de suas despesas, incluindo combustível e manutenção de aeronaves, estão ligadas ao dólar.

Em 25 de junho, o Morgan Stanley reduziu o preço-alvo para ADRs da Gol de US$ 15 para US$ 7, observando a alta sensibilidade dos lucros e do lucro líquido da empresa aos movimentos cambiais e de combustível de aviões.

"Mantemos recomendação equalweight, dada a elevada incerteza política de hoje, a natureza de beta elevado da ação e um possível cenário de enfraquecimento do real ainda maior", escreveram os analistas liderados por Josh Milberg em relatório.

Cerca de 85% da dívida bruta da Gol era denominada dólar até o final do primeiro trimestre, e a receita é quase inteiramente em reais. O real mais fraco, combinado com uma política de hedge limitada, deixa a empresa mais exposta a flutuações cambiais do que suas rivais, disse o analista do Citigroup, Stephen Trent, em uma entrevista por telefone.

"Do ponto de vista operacional, as diferenças não são tão significativas, mas do ponto de vista do balanço, as diferenças podem ser significativas", disse Trent, que tem uma classificação neutra para as ações. "Como eles financiaram o lado direito do balanço pode agora estar tendo um impacto."

A Gol não comentou sobre sua exposição cambial e sua política de hedge para essa reportagem.

A Azul, terceira maior companhia aérea do Brasil, tinha 35% de sua dívida total denominada em dólares no final do primeiro trimestre, de acordo com seu balanço trimestral. Sua política de hedge também é projetada para proteger a empresa das oscilações cambiais, disse o presidente da cia., John Rodgerson em uma entrevista.

"Temos muito menos exposição ao dólar do que qualquer um dos nossos concorrentes", disse Rodgerson em entrevista em 6 de junho. "Tomamos a decisão de fazer hedge de todas as nossas dívidas sem garantia; nossos concorrentes não fizeram isso. Também temos aeronaves financiadas em moeda local, as Embraer, e temos ativos denominados em moeda estrangeira, como nossa participação na TAP em Portugal. "

A menor exposição da Azul ao risco cambial não impediu, no entanto, que suas ações caíssem 20% neste mês, o segundo pior desempenho do índice IBX, atrás da Gol. A Latam Airlines, sediada em Santiago, segunda maior aérea no Brasil, caiu 13% no mês, o segundo pior desempenho no índice de referência chileno IPSA.

A Latam não retornou imediatamente um pedido de comentário.

--Com a colaboração de Ricardo Strulovici Wolfrid e Aline Oyamada.

Repórteres da matéria original: Vinícius Andrade em Sao Paulo, vandrade3@bloomberg.net;Fabiola Moura em São Paulo, fdemoura@bloomberg.net