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Como é dirigir Mercedes de US$ 2 milhões em rali na Áustria

Hannah Elliott

27/07/2018 14h30

(Bloomberg) -- Se você quer saber se tem um relacionamento sólido, enfrente um rali de carro com seu companheiro.

Os ralis, de modo geral, são competições de vários dias formadas por unidades de 10, 12 ou 14 horas ao volante, definidas de acordo com um caderno espiralado e vários contadores de quilômetros, temporizadores e cronômetros, como aqueles que os treinadores de atletismo usavam antigamente. Os ralis podem se estender por até 1.000 quilômetros, e alguns atravessam vários continentes. E, como costuma acontecer em viagens internacionais, eles tendem a trazer à tona o que se esconde sob a superfície. Para o bem ou para o mal.

Fui ao Silvretta Classic Rallye com muita curiosidade. Os pilotos costumam usar essa corrida anual com sede em Montafon, na Áustria, como treino antes de participar da prestigiosa e cansativa Mille Miglia, uma corrida de resistência de mil milhas (1.609 quilômetros) que cruza a Itália.

Esta seria minha primeira tentativa neste tipo de corrida de carro, e do meu namorado também. Ela também marcaria quase um ano de nosso namoro e o aniversário dele. Mais de uma pessoa que nos ajudou com os preparativos me disse, talvez até com um tom excessivamente alegre, que muitos casais terminavam a corrida aos prantos. Joia.

Nós nos juntamos a 200 outros veículos antigos - tinha de tudo, de G-Wagen dos anos 1980 a Porsche 911s da década de 1970 e Bentley de antes da guerra - para percorrer em três dias 800 quilômetros de caminhos de montanha e pastos pontilhados de bovinos. E nós tínhamos chegado na noite anterior, depois de um voo noturno que saiu de Nova York e de uma viagem subsequente de três horas para chegar nos Alpes.

Primeira regra de ouro: se você quiser participar de um rali, tenha pelo menos um dia livre para se acostumar ao novo lugar e se recuperar do jet lag.

Como você deve imaginar, tivemos pouco tempo para nos familiarizar com o livro de regras (eu) e com o carro multimilionário (ele).

Mas, ah, que carro! O Mercedes-Benz Classic Museum em Stuttgart, na Alemanha, nos emprestou um Mercedes 300 SL Gullwing de 1955 para a corrida. Com um enorme corpo preto de dois lugares e interior vermelho, calotas escurecidas e aquelas famosas portas que abrem para cima, era impossível não amar esse carro. Com um motor ruidoso de seis cilindros e freios anestesiados que só respondiam se estivessem a fim naquele momento, esse carro também exigia concentração absoluta e habilidade para dirigir.

Nosso plano era que ele assumiria o volante - Magnus é o melhor motorista que eu conheço - e eu me encarregaria do mapa e do cronograma. Se você me perguntasse quem ficou com o trabalho mais difícil, eu não saberia responder. Por um lado, ele foi o único responsável por pilotar uma obra de arte de metal de 1.360 quilos em centenas das curvas mais apertadas do mundo (já mencionei que o preço padrão dessas belezinhas em leilões ronda US$ 2 milhões?) na chuva, no calor e em um nevoeiro tão denso parecia uma malha de metal.

Por outro lado, eu tive que encontrar o caminho a seguir com um livro de rotas espiralado repleto de hieróglifos indecifráveis (estava tudo em alemão), com colunas que indicavam distâncias em quilômetros e testes de tempo contrarrelógio que não me ajudavam em nada. Este era nosso roteiro literal para os próximos três dias, com instruções para chegar a pontos específicos onde tínhamos que chegar para obter um carimbo oficial ou atingir um determinado tempo que precisávamos calcular de acordo com hora, minuto e segundo de nossa largada. Por exemplo, cada dia estava dividido em etapas, e tínhamos, digamos, 87 minutos para completar a primeira etapa, desde o horário de nossa largada até uma pequena cidade austríaca a 85 quilômetros de distância. A segunda etapa poderia ser completar 130 quilômetros em 121 minutos, e assim por diante.

Qualquer pessoa que já tenha dirigido com o companheiro em uma cidade desconhecida - ou até mesmo no trânsito da hora do rush - sabe que dar e seguir instruções pode ser... tenso. Deus sabe que eu não sigo nem o Google Maps. Decifrar as indicações em alemão naquele caderno parecia tentar interpretar código Morse.

O resultado? Magnus e eu não terminamos nem entre os primeiros, nem entre os últimos do rali. Mas tenho certeza de que ficamos mais empolgados do que os vencedores.