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Preço do petróleo dita acidentes em `estrada da morte' nos EUA

Ryan Collins e Rachel Adams-Heard

30/07/2018 11h53

(Bloomberg) -- Rota 285 é o nome formal de uma das principais estradas usadas para transportar suprimentos de e para os campos petrolíferos do oeste do Texas. A população local tem um apelido para ela: "estrada da morte".

No ano passado, 93 pessoas morreram em acidentes com caminhões no lado do Texas da bacia do Permiano, 43 por cento a mais que em 2012. Quer saber quantas mortes esperar no futuro? Fique de olho no preço do petróleo.

O número de mortes no trânsito envolvendo caminhões de grande porte diminuiu em 2015, quando os preços do petróleo despencaram. Ele subiu no ano passado com a alta do petróleo, que aumenta a demanda por caminhoneiros que dirijam os enormes veículos de 18 rodas que transportam de tudo, como água, areia, tubos de aço e combustível.

A Rota 285, que atravessa Pecos, no Texas, e Carlsbad, no Novo México, talvez seja "a estrada mais mortífera dos EUA", disse Ralph McIngvale, sócio da Permian Lodging, que constrói e administra acampamentos para trabalhadores na região. "Você precisa ser muito defensivo. Você tem que olhar tanto pelo vidro traseiro quanto pelo para-brisa dianteiro."

A demanda por motoristas na bacia é tão grande que eles podem chegar a ganhar US$ 120.000 por ano com facilidade, disse o xerife do condado de Midland, Gary Painter, em entrevista. Mas isso também cria problemas.

"Alguns correm demais, alguns estão cansados demais para dirigir, mas continuam ganhando dinheiro", disse ele. "Alguns desses caras estão simplesmente tentando ganhar o máximo de dinheiro possível."

James "Whiskey" Stroup, de 57 anos, é um caminhoneiro experiente. Ele dirige caminhões de areia agora, mas já trabalhou também como treinador de novos motoristas. Ele sabe que precisa parar para descansar, disse ele, mas nem todo mundo para.

"Depois de passar dez ou onze dias no campo de petróleo, trabalhando 14 horas por dia, você fica tão cansado que nem consegue pensar direito", disse ele em entrevista. "Seu cérebro para de funcionar porque você só dorme entre quatro e seis horas."

Stroup tem muita experiência, mas muitos dos motoristas são jovens, destemidos e, em geral, inexperientes. É por isso que as empresas de serviços petrolíferos procuram treinadores como Jeffrey Walker, coordenador de treinamento de transporte do New Mexico Junior College, para capacitar motoristas. O programa de Walker oferece sessões que duram três semanas, após as quais os alunos fazem um teste de três partes para obter a carteira de motorista comercial.

A pior parte de dirigir é que os caminhões de grande porte circulam em estradas que não foram projetadas para a quantidade de tráfego a que estão sendo submetidas, disse Walker em entrevista.

No Novo México, onde Walker mora, os motoristas enfrentam buracos que chegam a vários metros de largura, fenômeno que muitas pessoas atribuem ao fracking, disse Walker. E encontrar fundos para consertar a estrada é uma "batalha interminável", disse ele.

O Departamento de Segurança Pública do Texas está lidando com o problema, disse o sargento Oscar Villarreal em entrevista. Limites de velocidade que chegavam a 120 quilômetros por hora foram reduzidos e o departamento tem mais policiais para monitorar as estradas. Mas, como o número de motoristas cresce tão rapidamente, ele disse, não há muito o que eles possam fazer.

Repórteres da matéria original: Ryan Collins em Houston, rcollins74@bloomberg.net;Rachel Adams-Heard em Houston, radamsheard@bloomberg.net