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Dívida corporativa de Argentina e Turquia vai pior que soberana

Justin Villamil e Pablo Gonzalez

14/08/2018 11h42

(Bloomberg) -- Não são apenas os títulos soberanos. Títulos de empresas da Argentina e Turquia também caminham juntos até o fundo do poço.

Entre os 10 títulos corporativos denominados em dólares de países emergentes de pior retorno neste mês, seis são de emissoras da Turquia e quatro da Argentina. O papel do Turkiye Is Bankasi com vencimento em 2028 desabou quase 19 por cento. A menor perda no grupo é da Transportadora de Gas del Sur, de 7,3 por cento. Já os títulos soberanos da Argentina recuaram 7,5 por cento e os da Turquia, 6,7 por cento.

"O mercado está negociando Argentina e Turquia como gêmeos siameses", disse Guido Chamorro, gestor sênior de investimentos da Pictet Asset Management, em Londres. "Por motivos diferentes, mas com resultados similares."

Embora Turquia e Argentina sofram de déficits em conta corrente elevados e inflação acelerada, é o fato de o governo turco se recusar a seguir políticas econômicas ortodoxas e subir juros que derruba a moeda e os ativos do país. Na Argentina, que elevou a taxa básica de juros na segunda-feira, um escândalo de corrupção se espalha rapidamente e ameaça travar os investimentos.

Os títulos dos bancos turcos são particularmente punidos porque o tombo da lira abala ativos ponderados por risco nos balanços patrimoniais de instituições financeiras. Quanto mais a lira se deprecia, fica mais difícil para as empresas nacionais pagar dívidas denominadas em dólar.

Os ativos turcos podem se tornar atraentes em algum momento, mas investir no país agora seria como "pegar uma faca em queda", disse Oksana Reinhardt, diretora-executiva da SMBC Nikko Capital Markets, em Londres.

Na Argentina, a investigação envolvendo algumas das maiores companhias do país vem junto com a recessão. Em maio, a atividade econômica sofreu a maior retração desde 2009. Em junho, a produção industrial registrou a maior queda desde 2003.

Todas as quatro empresas argentinas na lista dos 10 títulos de pior desempenho estão direta ou indiretamente envolvidas na investigação, incluindo a Pampa Energia, que controla a Transportadora de Gas del Sur. Um porta-voz da Pampa afirmou que a desvalorização do título pode ser relacionada ao prejuízo da empresa no segundo trimestre. As outras emissoras argentinas se recusaram a comentar.

Empresas como a Transportadora de Gas del Sur enfrentam um problema parecido com o da Turquia, de honrar obrigações em dólar em meio ao colapso do câmbio. O banco central subiu a taxa básica de juros em cinco pontos percentuais para 45 por cento para tentar conter o movimento.

O peso argentino acumula queda de mais de 35 por cento neste ano. Somente a lira da Turquia teve pior desempenho no mundo inteiro no período.

Repórteres da matéria original: Justin Villamil em Cidade do México, jvillamil18@bloomberg.net;Pablo Gonzalez em Buenos Aires, pgonzalez49@bloomberg.net