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Com queda do bitcoin, criptomineradores cavam mais fundo

Justina Lee

16/08/2018 15h21

(Bloomberg) -- Com a queda do bitcoin, não seria estranho se a atividade de mineração também recuasse. Não foi o que aconteceu.

A combinação de queda dos preços e aumento da hash rate -- que mede o poder de processamento -- mostra a complexidade da economia da mineração de criptomoedas. A hash rate crescente evidencia que a mineração de bitcoins ainda rende lucro suficiente para manter muita gente no ramo, desafiando a especulação de que os preços agora estão abaixo do ponto de equilíbrio financeiro.

Isso pode refletir a sofisticação da mineração de bitcoin após o aumento de 1.400 por cento dos preços no ano passado. Apesar de a alta ter atraído muitos amadores, que fazem mineração dos porões de suas casas, as recompensas lucrativas também levaram grandes mineradores a melhorarem seus equipamentos, adquirindo chips cada vez mais velozes e montando operações em lugares com energia barata. Isso os ajudou a expulsar os mineradores menores em meio à trajetória do preço até o nível atual de US$ 6.000.

"Ainda há grandes expansões acontecendo, especialmente de mineradores mais eficientes", disse Marco Streng, CEO da Genesis Mining, por telefone, de Londres. "A expansão é tão grande que compensou a saída dos mineradores não tão eficientes."

Novos bitcoins são criados quando computadores competem pelo processamento de transações resolvendo enigmas complexos em troca de tokens. Com o aumento do poder de mineração, os cálculos necessários para gerar novas moedas digitais se tornam mais difíceis -- um mecanismo projetado para limitar a oferta e o domínio nas mãos de alguns poucos mineradores. A corrida pela dianteira com tecnologias de ponta é tão intensa que os mineradores viraram clientes fundamentais de gigantes da fabricação de semicondutores como a Nvidia e a Taiwan Semiconductor Manufacturing. E devido a essas vantagens o negócio está se tornando cada vez mais institucionalizado e concentrado nas mãos de empresas como Bitmain ou Bitfury.

Apesar de os aumentos mais rápidos da hash rate terem coincidido com a alta do preço no passado, a relação entre ambos não é tão simples. Teoricamente, o aumento da hash rate deveria elevar o preço, porque faria o custo de cada token subir. Mas o poder de computação pode estar aumentando agora por causa das expansões de capacidade passadas, que são um custo irrecuperável para os mineradores e refletem preços anteriores mais elevados. Além disso, é possível que os mineradores vendam uma fatia maior de seus ativos com margens mais espremidas.

"A hash rate maior é um sinal de que as pessoas estão aqui com visão de longo prazo porque estão felizes em simplesmente acumular o que têm e possivelmente até operar com prejuízo", disse David Sapper, diretor de operações da bolsa de criptomoedas Blockbid, em Melbourne. Ao mesmo tempo, as pessoas "às vezes precisam limpar a casa e levar o lixo para fora".

Vários analistas tentaram calcular o preço de equilíbrio para os mineradores, que podem oferecer respaldo para os preços. A empresa de pesquisa otimista Fundstrat Global Advisors estimou o valor em US$ 8.000. O Morgan Stanley afirma que as grandes fazendas de mineração ganham dinheiro apenas com o bitcoin negociado acima de US$ 8.600, segundo reportagem da CNBC. Pesquisadores da CoinShares, que oferece produtos de investimento em criptomoedas, estimaram em relatório, em maio, que o custo marginal médio de um bitcoin é de US$ 6.400.