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Irmãos bilionários, um guru indiano e muito dinheiro perdido

Ari Altstedter

16/08/2018 15h07

(Bloomberg) -- Às margens do rio Beás, no norte da Índia, existe uma grande comuna espiritual que é algo como uma mistura entre um ashram tradicional e um condomínio fechado da Flórida. O lugar tem um grande salão de reuniões com torres em espiral e cúpulas de pérola, mas também tem casas comuns e um supermercado estilo americano. Esse é o lar de 8.000 devotos do Mestre: Gurinder Singh Dhillon.

Seu grupo, o Radha Soami Satsang Beas, afirma ter mais de 4 milhões de seguidores em todo o mundo. Muitos o descrevem como Deus em forma humana. Mas, no mundo secular do dinheiro, Dhillon, 64, é uma figura-chave de um dos colapsos mais drásticos nos anais dos negócios indianos: o desmoronamento do império de finanças e de saúde dos irmãos Malvinder e Shivinder Singh.

Ao longo dos anos, a principal holding dos irmãos emprestou cerca de 25 bilhões de rúpias indianas (US$ 360 milhões) para a família Dhillon e para os negócios imobiliários amplamente controlados por eles, segundo documentos e pessoas a par do assunto. Alguns desses desembolsos foram financiados com dinheiro emprestado pelas empresas de capital aberto dos Singh e, quando combinados com outros investimentos malsucedidos dos Singh, empurraram o império para uma espiral de endividamento, mostrou uma análise da Bloomberg News de cadastros públicos e entrevistas com 10 pessoas a par das finanças de ambos os lados.

Debacle

Herdeiros de uma antiga casa de negócios que já valeu bilhões, os irmãos viram nos últimos seis meses uma grande queda de suas fortunas. Suas participações acionárias foram confiscadas pelos credores. Estão sob uma investigação criminal por parte das autoridades financeiras relacionada a 23 bilhões de rúpias que estão faltado em suas empresas de capital aberto. Eles devem US$ 500 milhões relacionadas a acusações de fraude ligadas à venda da farmacêutica Ranbaxy Laboratories em 2008. E também perderam a mansão da família. Ambos negam qualquer irregularidade.

Dhillon é primo da mãe dos Singh e se tornou pai adotivo deles após a morte dos pais no fim da década de 1990. Desde então, as finanças do líder espiritual e dos irmãos se entrelaçaram e o dinheiro fluiu dos Singh para a família Dhillon mediante empréstimos através de empresas-fantasmas e de uma série de instrumentos financeiros misteriosos, de acordo com documentos e pessoas a par do assunto, que pediram para não serem identificadas porque as investigações ainda estão em andamento. Dhillon não foi acusado de nenhum delito.

Malvinder, 45, e Shivinder, 43, não foram acusados de nenhum crime. Os irmãos reconhecem ter laços financeiros com Dhillon e em comentários escritos disseram que estão dialogando com a família Dhillon e suas empresas para solucionar a questão do dinheiro devido a eles.

'Por amor'

Mas eles também disseram que seria "falso" sugerir que o guru foi uma causa dos problemas financeiros do grupo. "Malvinder e Shivinder são inequívocos sobre isso: o Sr. Dhillon é o Mestre espiritual deles", escreveram os irmãos. "Ele sempre agiu só por amor e sempre teve as melhores intenções em relação a eles no coração."

Os irmãos são menos generosos com outro seguidor do grupo espiritual, Sunil Godhwani, que, segundo eles, foi nomeado para dirigir a empresa financeira Religare Enterprises por recomendação de Dhillon. Eles dizem que Godhwani também dirigia a RHC Holding e que muitas vezes tomou decisões sem informá-los. Os irmãos dizem que Godhwani foi o arquiteto das estruturas financeiras, incluindo os empréstimos à família e às empresas de Dhillon, que causaram seus problemas financeiros.

Representantes do grupo espiritual disseram que o Mestre não desempenha nenhum papel na administração ou nas finanças.