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Crise de suicídios nos EUA pode ser pior do que se pensava

Michelle Fay Cortez

28/08/2018 14h52

(Bloomberg) -- O diabetes é uma notória ameaça à saúde nos EUA, com números de epidemia nos últimos anos. Mas agora os pesquisadores revelam que a doença foi superada por outro flagelo em termos de mortalidade: os suicídios e as mortes por overdose de medicamentos.

O diabetes é oficialmente classificado como a sétima maior causa de morte do país. A automutilação, como é conhecida a combinação de suicídio e morte relacionada a drogas, matou tanto quanto o diabetes em 2014, e o ritmo continua acelerando. A principal consequência desta crise descontrolada será a redução da expectativa de vida nos EUA, disse Ian Rockett, professor de epidemiologia da West Virginia University, em Morgantown.

"Infelizmente, acho que não estamos fazendo um bom trabalho para compreender essa questão", disse Rockett, autor principal de um estudo publicado na segunda-feira na revista Injury Prevention. "Trata-se de um problema crescente."

Apesar da conscientização maior a respeito dos perigos dos narcóticos e dos analgésicos vendidos com receita, o verdadeiro tamanho da crise dos opioides dos EUA e o caminho para resolvê-la tem sido obscurecido pela forma como os médicos legistas registram as mortes, segundo o relatório. Quando não há carta de suicídio, a maioria das overdoses é registrada como acidente. Enquanto isso, as taxas de suicídio vêm aumentando desde 2005, e a forma mais comum de tentativa de suicídio é a overdose de medicamentos.

"As crescentes taxas de mortalidade por suicídio e opioides não são de fato independentes", disse Rockett, em entrevista por telefone. "Se você colocar o foco no comportamento, verá que a maioria dessas mortes se dá por autolesão. Não queremos culpar a vítima, mas, do ponto de vista descritivo, elas deveriam ser agrupadas."

A separação delas mascara os números nacionais de mortes provocadas por comportamentos intencionais e autolesivos, disseram os pesquisadores. A compreensão plena do tamanho do problema pode ajudar as autoridades de saúde pública a desenvolver métodos eficazes para intervir na crise.

As estratégias de prevenção tiveram sucesso com outros problemas de saúde socialmente complexos, como a redução de mortes por câncer de pulmão relacionado ao fumo, doenças cardíacas, HIV e acidentes de carro. A chave é definir e medir o problema com precisão e, em seguida, encontrar vontade política para enfrentá-lo, disseram.

"Sem o primeiro fator, é impossível alcançar o último", disseram os pesquisadores.

Os médicos legistas não deveriam gastar mais tempo investigando suicídios, disse Rockett. Em vez disso, as duas categorias deveriam ser combinadas para que a autolesão e os problemas de saúde mental subjacentes possam ser examinados com mais amplitude.

"Temos uma grande crise de saúde mental em curso nos EUA, e ela é bastante subestimada quando pensamos nos suicídios e nas mortes por intoxicação com medicamentos como fenômenos diferentes", disse. "Precisamos colocar a saúde mental na linha de frente. Trata-se de um problema ainda maior do que se pensa."