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Hotel de luxo em antiga prisão mostra legado de McCain no Vietnã

John Boudreau e Nguyen Dieu Tu Uyen

28/08/2018 14h58

(Bloomberg) -- O terreno do "Hanoi Hilton", antigamente ocupado pela famosa prisão onde John McCain passou por anos de tratamento brutal como prisioneiro de guerra, hoje abriga um hotel de luxo e um complexo de escritórios onde os vietnamitas tomam cappuccinos e compram equipamentos de golfe de marcas americanas.

McCain, que faleceu no sábado depois de lutar contra um câncer cerebral, acabou na prisão de Hoa Lo depois que ser abatido em um bombardeio durante a Guerra do Vietnã, 51 anos atrás. A transformação do país do Sudeste Asiático ao longo dos anos é um sinal do legado do falecido senador.

"Por causa de John McCain, os EUA e o Vietnã puderam se reconectar", disse Adam Sitkoff, diretor executivo da Câmara Americana de Comércio em Hanói. O investimento e o comércio após a guerra ajudaram a transformar o país do Sudeste Asiático. "Nas últimas duas décadas, a renda per capita do vietnamita mais que quadruplicou", disse Sitkoff. "É uma grande parte do legado dele."

Nas décadas seguintes ao conflito, McCain foi implacável em pressionar o governo dos EUA a normalizar as relações diplomáticas e econômicas com o antigo inimigo: a embaixada informou que ele fez 23 viagens ao Vietnã. Apesar de criticar o sistema monopartidário e o histórico do país em relação aos direitos humanos, McCain buscou estreitar os laços e tornou-se um personagem popular para muitos no país.

"Cheguei em #Hanoi, onde as pessoas sempre me cumprimentam de modo incrivelmente amigável", twittou McCain em 7 de agosto de 2014.

Diante da notícia de seu falecimento, os vietnamitas que antigamente corriam para abrigos aéreos enquanto bombas americanas choviam sobre Hanói lamentaram a morte do senador.

Hoang Manh Cuong, de 60 anos, lembrou-se de ter corrido para o lago Truc Bach, em Hanói, em 1967, quando se espalhou a notícia de que o piloto americano havia sido capturado ali. Na manhã de segunda-feira, ele rezou em um monumento de concreto ao ex-senador dos EUA à beira do lago, cujos moradores transformaram em um santuário improvisado com flores e incenso.

"Embora tenha sido nosso inimigo, ele ajudou muito a restaurar as relações entre os EUA e o Vietnã", disse Cuong. "Isso ajudou a abrir a economia e melhorou drasticamente nossas vidas. Devemos isso a ele."

O ex-piloto da Marinha foi o mais famoso prisioneiro de guerra do Vietnã do Norte. Depois de voltar aos EUA após cinco anos e meio em cativeiro, McCain começou uma carreira no Congresso que o tornou uma força na política americana e internacional. Ele concorreu à presidência dos EUA em 2000 e 2008, e obteve a nomeação republicana em sua segunda campanha, mas perdeu a eleição para o democrata Barack Obama.

No Vietnã, a imprensa controlada pelo Estado publicou e transmitiu notícias sobre a morte de McCain, lembrando favoravelmente o papel do político na melhoria das relações diplomáticas entre os EUA e o Vietnã. O vice-primeiro-ministro do Vietnã, Pham Binh Minh, assinou um livro de condolências na Embaixada dos EUA, e o Ministério das Relações Exteriores afirmou que McCain fez "grandes contribuições para curar as feridas da guerra".

--Com a colaboração de Mai Ngoc Chau e Nguyen Kieu Giang.

Repórteres da matéria original: John Boudreau em Hanói, jboudreau3@bloomberg.net;Nguyen Dieu Tu Uyen em Hanói, uyen1@bloomberg.net