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Gigante agrícola quer salvar Cerrado da invasão da soja

Mario Parker e Tatiana Freitas

29/08/2018 14h41

(Bloomberg) -- A vasta floresta do Brasil é sinônimo do problema do desmatamento, mas o Cerrado brasileiro também está em risco por causa da expansão agrícola. Uma das maiores empresas agrícolas do mundo, junto com um dos maiores bancos do País, pretende impedir que os agricultores desmatem a vegetação da região.

A Bunge e o Banco Santander Brasil, junto com The Nature Conservancy, uma instituição sem fins lucrativos dos EUA, iniciarão um programa-piloto em setembro que concede empréstimos aos agricultores brasileiros que cultivam partes do Cerrado que prescindem do desmatamento. Os empréstimos serão em dólares e terão prazo de até 10 anos.

O programa começará com US$ 50 milhões em capital, segundo a Bunge, que tem sede em White Plains, Nova York. Os aportes serão divididos entre a Bunge, que aportará 30% do total, o Santander (65%) e a TNC (5%).

"Esse é um programa inovador por oferecer ao produtor um empréstimo de longo prazo para compra e recuperação de terras", diz Carlos Aguiar, diretor de agronegócios do Santander, lembrando que no Brasil normalmente os empréstimos feitos aos produtores são de curto prazo, para financiar o plantio ou a compra de máquinas e silos. "Com esse programa, queremos incentivar o plantio em áreas já desmatadas."

O Cerrado, a maior savana de pastagem da América do Sul, vem sofrendo uma pressão crescente com o aumento contínuo da produção brasileira de soja. O País se tornou o maior exportador mundial da commodity usada principalmente na alimentação animal. Espera-se que a produção continue crescendo no próximo ano, e os produtores brasileiros estão sendo ajudados pela guerra comercial entre os EUA e a China, que elevou os preços na América do Sul em relação ao preço de referência de futuros em Chicago.

No ano passado, a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência pediram ao governo que reforçasse a proteção ao Cerrado, uma faixa de terra que fica ao sul da Amazônia e que é cerca de três vezes maior que o Texas.

"Essas tendências estão acontecendo e estão aumentando a cada ano", disse Stewart Lindsay, vice-presidente de assuntos corporativos globais da Bunge, em entrevista por telefone. "O mercado está transmitindo sinais novos e diferentes, mas eles ainda não estão transmitindo sinais fortes o suficiente para realmente encorajar os agricultores em lugares como o Brasil a expandir aqui e não ali."

Os empréstimos serão concedidos a agricultores com quem a Bunge já tem um relacionamento. No programa piloto, de três a cinco produtores devem ser contemplados devido à grande extensão das propriedades no Cerrado.

"Estamos focando em áreas onde existe o risco de desmatamento para que a expansão agrícola aconteça de forma mais segura", Michel Santos, diretor global de sustentabilidade da Bunge, disse nesta quarta-feira durante coletiva.

Para ter acesso ao crédito, os agricultores terão de cumprir os limites ambientais, incluindo boas práticas agrícolas e outras medidas relacionadas à mão de obra e ao uso de produtos químicos, disse Greg Fishbein, diretor de investimentos agrícolas da The Nature Conservancy, em entrevista.

Grupos ambientalistas e empresas estão perguntando "como expandir a produção nessa região, porque o Brasil continuará sendo uma região de cultivo que fornece alimentos, ou soja, ao mundo, mas de uma forma que não continue desmatando todo esse habitat importante", disse Fishbein.

Repórteres da matéria original: Mario Parker em Chicago, mparker22@bloomberg.net;Tatiana Freitas em São Paulo, tfreitas4@bloomberg.net