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Herbicida da Bayer é ameaçado por apelação de licenças nos EUA

Joel Rosenblatt e Lydia Mulvany

30/08/2018 15h13

(Bloomberg) -- O produto químico agrícola XtendiMax, da Bayer, se tornou uma nova e poderosa ferramenta usada pelos agricultores americanos para eliminar ervas daninhas. Mas grupos ambientalistas afirmam que os órgãos reguladores dos EUA ignoraram advertências a respeito do principal ingrediente do herbicida, o dicamba, ao permitirem o uso, em 2016.

Um tribunal federal de apelações de Seattle recebeu solicitação na quarta-feira para anular a aprovação da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) após a destruição não intencional de milhões de hectares de lavouras não tratadas com XtendiMax, desde uvas para vinho e pomares de pêssegos até vegetais e soja. A Bayer herdou o XtendiMax ao adquirir a Monsanto por US$ 66 bilhões, em junho, e os produtos à base de dicamba são fundamentais para a estratégia de crescimento da empresa nos ramos de herbicidas e sementes geneticamente modificadas.

Grupos como The Center for Food Safety alegam que a EPA violou a lei federal ao ignorar evidências das autoridades de vários estados de que o produto químico se espalhava facilmente para lavouras não tratadas. Em 2017, apenas entre as fazendas produtoras de soja, 1,45 milhão de hectares de plantações não resistentes foram danificadas, segundo Kevin Bradley, professor de ciências botânicas da Universidade do Missouri. Após cerca de 2.700 reclamações no ano passado, a EPA exigiu um rótulo mais detalhado para o produto, treinamento obrigatório para a aplicação e um registro mais rigoroso.

"[O produto] está no ambiente de forma intensa e sem ser reportado", disse Steve Smith, diretor agrícola da Red Gold Tomatoes, a maior processadora privada de tomates, com sede em Orestes, Indiana. "Quando dirijo pelos campos, vejo que as árvores ao redor dos campos realmente apresentam danos, e isso não aparece nos cálculos de ninguém", disse Smith, que é membro da Save Our Crops Coalition, que não participou da ação judicial. "Todos tinham treinamento, então ninguém pode dizer que foi um problema de formação. É o produto."

Na audiência de quarta-feira, os grupos ambientalistas pediram que o tribunal de apelações anulasse a aprovação de 2016 da EPA ao XtendiMax para tornar a venda ilegal.

Muitos fazendeiros americanos -- especialmente os que cultivam milho e soja, as duas maiores culturas agrícolas dos EUA -- estão cada vez mais dependentes de herbicidas e sementes geneticamente modificadas para produzir plantas capazes de suportar os produtos químicos. A Monsanto desenvolveu um herbicida de sucesso na década de 1970, o Roundup, mas sua eficácia diminuiu nos últimos anos porque algumas ervas daninhas ficaram resistentes ao ingrediente ativo, o glifosato.

Os produtos à base de dicamba são desenvolvidos para combater as novas superervas daninhas, e há novidades pela frente. Sementes estão sendo criadas com resistência a cinco ou seis produtos químicos. Em conferência com analistas em 23 de agosto, o CEO da Bayer, Werner Baumann, descreveu a combinação de glifosato e dicamba, chamada Roundup Ready Xtend Crop System, como "nosso sistema de controle de ervas daninhas de última geração".

A EPA regula pesticidas e herbicidas, que devem ser registrados na agência. Embora as permissões sejam revistas a cada 15 anos, pelo menos, a EPA registrou novas formulações de dicamba por um período de dois anos para permitir que a agência altere o registro, se necessário.

A Bayer afirma que os fazendeiros estão adotando suas novas sementes e herbicidas em números recorde. A soja resistente ao dicamba foi plantada em 17 milhões de hectares em 2018, o que representa o dobro do ano anterior e quase a metade do total dos EUA, de 36,2 milhões de hectares, informou a empresa. Quanto ao algodão, o total foi de 3,2 milhões de hectares dos 5,4 milhões plantados nesta temporada.

Repórteres da matéria original: Joel Rosenblatt em São Francisco, jrosenblatt@bloomberg.net;Lydia Mulvany em Chicago, lmulvany2@bloomberg.net